Pequeno e grande mestre “Babo”

Pequeno e grande mestre “Babo”

Os trabalhos da equipa começaram em 2010, quando o irmão mais velho, Pedro Ernesto, na altura com apenas 14 anos, residente no bairro Benfica, decidiu trabalhar na reparação máquinas de lavar roupa, mesmo sem formação profissional. Depois de algum tempo, para aperfeiçoar os seus serviços, procurou fazer cursos técnicos como os de montagem de parabólicas e de frio e climatização, no Centro Comunitário da Juventude do Ramiros. Fruto da formação, os trabalhos aumentaram, precisava de ajudantes para atender às solicitações.

Chamou o seu irmão para o ajudar em alguns serviços, na época com seis ou sete anos. A criança foi ganhando prática e de título de auxiliar passou a técnico, porque já reparava máquinas e montava parabólicas. Pedro Ernesto procurou aumentar mais os níveis de conhecimento, fez o curso de pedagogia e ensinava com precisão o irmão, que passou a ser referência nos serviços e na comunidade. Meninos da mesma idade de José Ernesto, o “Babo”, passaram a aprender também com Pedro.

Babo conta que o primeiro trabalho que desenvolveu sem a presença do irmão foi a reparação de uma máquina de lavar roupa. No local, os proprietários da residência ficaram surpreendidos com o técnico que iria solucionar o problema, questionando se o “mestre” seria capaz. “Enquanto os membros da residência se interrogam, eu não digo nada e me preocupo em trabalhar.

Quando termino o trabalho com êxito fico feliz”, considerando que algumas vezes o trabalho leva mais tempo do que o previsto. Depois de Babo apareceram dois meninos interessados em aprender, e o número rapidamente se multiplicou para 24, com idades compreendidas entre os oito e os 14 anos. Segundo Pedro José, actuamente com 23 anos, estudante da 12ª classe, as formações são administradas na varanda da residência dos seus pais, por falta de outro espaço.

A equipa de jovens trabalhadores encabeçada por Pedro e Babo, os mestres, repara máquinas de lavar roupa, geradores, geleiras, arcas, aparelhos de ar-condicionado e faz manutenção, bem como montagem de antenas parabólicas e instalações eléctrica de baixa tensão. Recebem diariamente mais de 30 pedidos, muitos dos quais não são atendidos no mesmo dia, tendo em conta que todos os integrantes da equipa são estudantes, pelo que só podem atender os clientes depois da escola.

O mestre Babo despertou muito cedo a vontade de aprender o que o irmão fazia e o acompanhava em alguns trabalhos próximo de casa. Apesar de ainda não ter formação profissional, desempenha o seu trabalho com paixão e perfeição. José Ernesto almeja estudar engenharia electrónica e telecomunicações, tal como o seu irmão. Quanto aos valores arrecadados dos trabalhos realizados pela equipa, são divididos por todos os integrantes no final de cada mês, mas os meninos não recebem directamente das mãos de mestre Pedro, mas sim dos seus pais

. “Apesar de que não pagam nada pela formação, apenas as camisolas e o cartão, no final do mês dou uma mesada na mão dos papás, porque se eu der directamente neles acredito que irão gastar sem apresentar aos pais”, esclareceu Pedro Ernesto. Pedro Ernesto apela à sociedade em geral no sentido de arranjar um espaço melhor para desenvolver as suas formações e ensinar mais meninos. Pretende ainda trabalhar para melhorar as condições de vida dos seus pais, que considera precária. O mestre Pedro é mais velho de cinco irmãos, entre os quais três rapazes e duas meninas.