Trabalho de estúdios “encobertos” em sucessos musicais

Trabalho de estúdios “encobertos” em sucessos musicais

“Eu sou bakongo, bakongo, bakongo”, “Sacanagem, isso é sacanagem”, “Coração já não está a palpitar/ preciso de alguém para amar”, são trechos de alguns sucessos musicais que “batem” em Angola e foram, inclusive, merecedores de prémios nacionais. Mas, por detrás destes sucessos há um espaço projectado de forma a se obter as performances acústicas desejadas, como a difusão e equalização sonora, baixo nível de reflexões, reverberação adequada, entre outros aspectos técnicos.

Está-se a falar dos estúdios musicais, “cozinhas” ou ainda “laboratórios”, epítetos que produtores e músicos angolanos e portugueses foram atribuindo a esses locais de gravação com o desenrolar do tempo. “Às vezes, as pessoas não revelam onde gravam as músicas. Isso não é bom, mas pelo menos consegui ultrapassar isso”, atirou o CEO do estúdio X10, de nome Desejo Humano, que encara a produção como um bom negócio, embora não lhe tenha dado muito dinheiro.

O produtor, que ao longo da reportagem trabalhava numa música nova do rapper Young Double, afirmou que os estúdios actualmente estão muito desenvolvidos. Numa outra intervenção, disse que os maiores impulsionadores do mercado são produtores que não têm grandes condições nos estúdios. “Isso não é como antes, que tínhamos acesso restrito aos computadores.

Agora, qualquer um que tenha um computador com software específico e saiba manuseá-lo, pode trabalhar em produção musical”, referiu. Entretanto, o CEO da Dreams Record, Adilson Pimentel, acredita que, se não houvesse estúdio e profissionais na matéria, os músicos pouco teriam para dar aos seus seguidores.

Ausência de estúdios profi ssionais noutras províncias Preocupado, Adilson Pimentel chama à atenção da ausência de estúdios nas demais províncias do país. “Em termos de estúdios profi ssionais seria bom se pudéssemos nos espalhar para fora de Luanda. Angola não é só Luanda, as outras províncias também precisam de locais de gravação. Nessas localidades também temos talentos”, lamentou. Sobre o mesmo assunto, o responsável dos estúdios da Clé Entertainment, Zoca Zoca, contou que estúdios em Angola com alta qualidade musical ainda são poucos, visto que as pessoas para gravar, muitas vezes, se deslocam a Luanda. “Porque não conheço uma província com um grande estúdio, ao nível da Clé-estúdio, ou da Radio Vial, por exemplo. Precisamos de muito mais”, fez saber.

Outro assunto que inquieta o produtor, é o facto de estarem em falta no país sonoplastas e engenheiros de som, o que obriga os produtores, às vezes, a saírem do país. “Somos obrigados muitas vezes a mandar os trabalhos para o exterior do país à procura de uma boa mistura ou masterização dos nossos trabalhos”, revelou. Deve-se investir primeiro no capital humano, segundo Zoca. “Falo na formação, porque hoje, com a evolução tecnológica, não precisamos de grandes ou pequenos estúdios.

É com bons técnicos que vamos ter grandes trabalhos musicais”, acrescentou. Diferente dos dois primeiros interlocutores, o responsável dos estúdios da Clé Entertainment, Zoca Zoca, não reclama sobre a falta de visibilidade dos estúdios. “Primeiro, os artistas têm uma carreira para cuidar, e os estúdios são apenas uma área de trabalho técnico para produção de um produto, neste caso a ‘música’, e se houver qualidade ao nível procurado, as pessoas vão dar o devido respeito”, opinou.

Produtores divergem sobre existência de lei nos estúdios
Para Desejo Humano, se houver uma lei que regularize os estúdios, os produtores musicais teriam outro estatuto. “Não vão dizer que os produtores são todos “fobados”. Fora não é assim, só aqui é que não há lei que regule a actividade no estúdio”, disse. Por seu turno, Adilson Pimentel defende que não existe uma lei que regule a actividade no estúdio, pelo facto de poder, eventualmente,
limitar o crescimento artístico das pessoas que trabalham nesses espaços. “Um estúdio é um laboratório de arte. O artista deve ter a liberdade de expressar a sua arte”, realça.

DJ’s pagam imposto em mau ambiente Na semana fi nda, foi divulgada uma informação segundo a qual, os DJ’s passarão a pagar o Imposto sobre Rendimento de Trabalho (IRT), por força das alterações ao novo Código do IRT, aprovado, dia 23 de Novembro, na generalidade, pela Assembleia Nacional. Porém, Adilson Pimentel, responsável pela produção do tema vencedor da última edição do Top dos Mais Queridos, ganha por Yanninck Afroman, considera que quem faz um negócio deve pagar imposto ao Estado, mas defende que a situação económica actual do país não favorece.

“Eu acho que estão a responsabilizar pessoas que não têm nada a ver com a situação económica do país. Este imposto está a ser cobrado de forma injusta”, acrescentou Desejo Humano. De salientar que os rendimentos do IRT dividem-se em três grupos de tributação A, B e C. Os trabalhadores liberais fazem parte do grupo B, no qual são tributadas todas as remunerações “percebidas pelos trabalhadores por conta própria” que desempenhem, de forma independente, actividades previamente identifi cadas no Código sobre o IRT.

Estúdios Na nossa ronda e pelo que se foi ouvindo dos produtores, Luanda é a maior praça de gravação em todo o país. Entretanto, além da abertura de mais estúdios, os técnicos advogam a adequação técnica e profi ssional, com formação correspondente. “Xicote Produções”, “Letras e Sons”, “X10”, Clé-Entertainment”, “Banzelo Nations”, “Dreams Record”, “Arca Velha”, “Maianga Produções”, “Beto Max-Estúdio”, “Guetho Produções”, “Gira-Disco”, “Bom Som”, “Quebra Galho”, são entre outras, as mais procuradas em Luanda.