Os ‘boys’ do partido

Os ‘boys’ do partido

Uma nova revolução parece ter iniciado no país. Depois de José Eduardo dos Santos, ainda na década de 80 e 90, ter ensaiado com alguns jovens turcos, entre os quais Carlos Feijó e Isaac dos Anjos, que com menos de 30 anos entraram para cargos de relevo no aparelho do Estado, João Lourenço também quer deixar a sua marca. Ao nível do próprio Executivo, de que é senhor todo-poderoso por força da Constituição de 2010, foi mais longe ao confi ar à antiga estudante da Universidade Católica de Angola Vera Daves a pasta das Finanças, sobretudo numa fase crítica do país. A aposta na jovem tecnocrata não é mera coincidência. Aliás, há muito que a actual inquilina da Mutamba rondava pelos corredores, daí que substituir Archer Mangueira podia ser só uma questão de tempo. Mas, independentemente dos novos ventos que vão soprando no país em termos do combate à corrupção e ao branqueamento de capitais, o Ministério das Finanças sempre foi um dos mais apetecíveis palcos de qualquer Executivo. São poucos os antigos inquilinos, sobretudo no tempo da mamata, que por lá passaram e no fi m das contas vieram a constar na lista de angolanos que sobrevivem com menos de dois dólares por dia ou, ainda, que não se tornaram em proeminentes empresários. Apesar da idade, felizmente, Vera Daves entra num processo em contramão dos sabores e desígnios do passado. Hoje, a missão parece ser mais de saneamento das nossas fi nanças. De quem chegou à conclusão de que 25 por cento da dívida pública é falsa, não se pode esperar outra coisa. Mas os novos desafi os desta nova temporada, em que a aposta nos ‘boys’ do partido é praticamente visível, é o que se vai assistindo na administração local. Se no interior os passos foram tímidos neste sentido, verifi cando-se ainda o peso veterano nas escolhas de alguns governadores provinciais, no mais importante círculo eleitoral do país, Luanda, a ousadia foi maior, com o governador Sérgio Luther Rescova a fazer valer o velho aforismo de que, enquanto há vida há esperança para muitos jovens. Pela mão do antigo primeiro secretário nacional da JMPLA, a província de Luanda, a manda chuva dos distritos no país, numa sentada trouxe à ribalta a certeza de que chegou a vez dos boys do partido. Foi a partir do seu viveiro, com ou sem experiência governativa alguma, que se preencheu grande parte dos quadros que têm a missão de tornar Luanda num sítio mais aprazível e bom para se viver. Em política, num sistema como o nosso, é assim: concordese ou não, quem venceu manda. Quem vence escolhe. Impõe o seu modelo, ritmo, cabendo a quem não possa contrariar esperar pelos resultados quando voltar às urnas, caso as suas expectativas não sejam frustradas. Mas, em política também, sobretudo em tempos mais críticos, como estes que vivemos, é preciso que se parta para ideias e soluções concretas e duradouras para os problemas que enfermam a sociedade. Isto é, longe dos velhos clichés do baile da vassoura ou das plantações de árvores que se deve começar a colmatar a partir das escolas primárias e secundárias. Luanda, a velha cidade dos eternos problemas, aguarda por ideias mais ousadas. É preciso que, com serenidade se discuta questões como a mobilidade, a problemática da venda ambulante, a iluminação pública, segurança, abastecimento de água e saneamento básico. Numa fase em que assistimos a milhares de cidadãos a recolher latas e embalagens de plástico, discutir a questão da reciclagem e o surgimento de uma indústria neste segmento não pode ser coisa do outro mundo para uma cidade como a nossa, que gasta milhares de dólares e tem no lixo um fi lão dos governantes. Creio que algumas das preocupações acima mencionadas farão parte daquelas que alguns dos futuros autarcas irão precisar de explicar para convencer o eleitorado, caso as eleições autárquicas ocorram no próximo ano. Embora algumas preocupações terão soluções centrais, isto é, a partir do topo, será a partir da base que outras devem merecer atenção. Aliás, mesmo que o apoio surja da parte do partido que representam, serão estes os escrutinados. Já não é tempo de improvisos. Nem de seguir governantes, sobretudo jovens, embriagados no velho catecismo com fotos disseminadas a dizer que “nós apoiamos o líder”. A melhor maneira de apoiá-lo é com projectos viáveis e sérios, que assegurem de alguma forma, que chegou mesmo o tempo de os boys do partido darem os nomes às coisas: que o futuro, afinal, pertence-vos.

 

Por:DANI COSTA