Natal: uma das festas mais importantes do Cristianismo

Natal: uma das festas mais importantes do Cristianismo

Hoje é Natal. Dia de festa para uns e um dia normal para outros. OPAÍS traz, na presente ediçã,o os pontos de vista de um sacerdote, de um sociólogo e de um ateu sobre esta efeméride que movimenta milhares de pessoas e de capitais financeiros pelo mundo.

Maria Teixeira

Opadre José Esteves, da Igreja Católica, define o Natal como uma das festas mais importantes do Cristianismo, junto com a Páscoa e o Pentecostes, por, alegadamente, ser a celebração do Nascimento de Jesus Cristo. Explicou que o Natal é uma Epifania ou seja, a manifestação de Deus e da sua grande luz num menino, a que São Francisco de Assis, no século XII, ao iniciar a tradição católica do presépio, chamou de “a festa das festas”.

Porém, para a sua Igreja, a “festa das festas” é a Páscoa, por representar “a ressurreição de Jesus Cristo” que, alegadamente, ressuscitou da morte, criando para o homem um lugar no próprio Deus. No entanto, ressalta que São Francisco não mudou, nem quis mudar, a hierarquia das festas litúrgicas, nem a estrutura interior da fé com o seu centro no Mistério Pascal. “Graças a este santo e ao seu modo de crer e viver o Evangelho, descobriu-se numa profundidade totalmente nova a humanidade de Jesus”, frisou.

Ele disse que desta forma, o “Filho de Deus” visto como menino, como verdadeiro filho do homem, toca com profundidade o coração do santo de Assis, transformando a fé em acto de ternura e de amor. Contou que com o nascimento de Cristo tornou-se clara a humildade de Deus, ressaltando que o seu filho nasceu na pobreza do estábulo. Nele, Deus fez-se de pendente, necessitado do amor de pessoas humanas, reduzido à condição de pedir o seu e o amor da humanidade.

O Natal tornou uma festa dos negócios

José Esteves disse ainda que esta efeméride tornou-se uma festa dos negócios, cujo fulgor ofuscante esconde o mistério da humildade de Deus, que convida as pessoas à humildade, à simplicidade, à ternura, à compaixão e à alegria.

“Com a proliferação de seitas que se proclamam “cristãs” e se apresentam como únicas intérpretes autorizadas das sagradas escrituras, as tradições mais genuínas do verdadeiro cristianismo vão sendo contestadas e a desinformação levanta dúvidas mesmo entre os fiéis católicos mais desprevenidos”, lamentou. Acrescentou que muitos atacam o Natal como se fosse uma festa pagã, um invento dos católicos, tornando a data numa festa de promoção consumista ou de festa de família.

Origem da celebração do Natal

Em seu entender, o equívoco inicial é afirmar que os primeiros cristãos não comemoravam o Natal e que essa tradição teria começado com o imperador Constantino, ou com os franciscanos, no século XII (…). De acordo com José Esteves, o facto histórico, na verdade, é que os cristãos já comemoravam formalmente o nascimento do Cristo, pelo menos desde o segundo século, e é quase certo que o faziam informalmente antes disso. “Afinal, Deus mesmo determinou que nos alegrássemos pelo nascimento do seu Filho neste mundo –, Deus feito homem para a nossa salvação”, frisou.

Para fundamentar a sua afirmação, recorreu a duas passagens na Bíblia que isso revelam: A primeira está no segundo capítulo de Lucas, versículos de 10 a 12, segundo a qual os anjos, logo após o nascimento do Menino Deus, clamam aos pastores. “Não temais, eis que vos anunciamos uma Boa Nova, que será de alegria para todo o povo: hoje vos nasceu, na Cidade de Davi, o Salvador, que é o Cristo e Senhor!”.

A segunda, não menos importante, encontra-se no Antigo Testamento. De acordo com o sacerdote, o profeta Isaías, no capítulo 9, versículo de 1 a 5, afirmava também que se deveria festejar o nascimento de Cristo, numa das passagens que considera de ser uma das mais belas:

“O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz. Sobre os que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu a Luz. Suscitais um grande júbilo, provocais uma imensa alegria! Rejubilam- se diante de vós como na alegria da colheita porque um menino nos nasceu (…)”. José Esteves disse que o povo cristão é admoestado a alegrar- se e a celebrar o Nascimento de Cristo. “Há registos históricos desta celebração desde o ano 200 de nossa era (muito antes de Constantino, portanto), como, por exemplo, Clemente de Alexandria (150 dC) que chegou a declarar (atenção) que os teólogos do Egipto não guardavam nenhum dia do ano a não ser o Natal do Senhor”.