Artistas preocupados com extinção de instrumentos musicais tradicionais

Artistas preocupados com extinção de instrumentos musicais tradicionais

A puita, a dikanza, o hungu, vulgo berimbau, o batebate e o dikembe são alguns dos instrumentos que se encontram em via de desuso, segundo os instrumentistas

PorAdjelson Coimbra

Os multi-instrumentistas Raúl Tollingas e Horácio da Mesquita manifestaram-se preocupados com alguns instrumentos musicais tradicionais que se encontram em via de desuso. Raúl Tollingas que falava em exclusivo a OPAÍS, apontou a puita, a dikanza, o hungu (vulgo berimbau), o bate-bate e o dikembe, como instrumentos que estão em via de extinção e nada está a ser feito para a sua recuperação. “Há poucos jovens a tocar esses instrumentos, e os poucos que os têm executado são os mais estão ligados à música tradicional angolana”, disse Tollingas. O músico referiu que actualmente muitos destes jovens estão mais inclinados para a música electrónica e não se importam com os referidos instrumentos por uma questão de complexo. Raúl Tollingas recordou que para a salvaguarda destes instrumentos, o Ministério da Cultura em representação do Instituto Nacional de Património Cultural (INPC), os devesse elevar ao estatuto de Património Material Cultural Nacional.

Responsabilidade incide sobre a imprensa

Diferente de Tollingas, Horácio da Mesquita referiu que o MINCULT já fez o que tinha de fazer e certas vezes atribuem-se responsabilidades que não competem ao MINCULT. “Essa responsabilidade compete aos órgãos de comunicação social, principalmente, os áudio-visuais: as televisões que não fazem bem o seu trabalho. Rejeitam a nossa identidade, os nossos valores, e está aí o resultado, jovens desempregados, porque são jovens que não podem exibir nem viver da sua cultura”, desabafou. Horácio da Mesquita realçou que se esses instrumentos fossem promovidos a património material, estariam protegidos. “Sou o presidente da Rebita da Ilha. Este género de dança e música foi elevada a Património. Porém, pode ocorrer que se passe um ano e ninguém nos chame. Nem espaço sequer temos na comunicação social” O multi-instrumentista apelou a valorização desse género, por ser o último reduto do cancioneiro popular. Para se ultrapassar essa situação, Horácio da Mesquita aconselhou a sociedade e não só desapegar-se da aculturação de outras civilizações, principalmente das Antilhas e Estados Unidos, que sacrificam a nossa identidade.