O discurso e o cinto que se aperta

O discurso e o cinto que se aperta

A aposta na produção nacional, através de iniciativas agro-industriais, vai ajudar a reduzir a importação de vários produtos ao país, declarou o ministro da Agricultura e Florestas, António Francisco de Assis. Até aqui, creio que estamos todos de acordo. Mas, atenção, temos problemas. O primeiro problema diz que discursos não matam a fome. Tem-se tentado passar a ideia de que a redução da importação é resultado da produção nacional que cresceu. Nada disso, apenas apertamos mais o cinto porque não há dinheiro para importar. O segundo problema está no lobby da importação, prontinho para agir mal haja dinheiro. E argumentos não lhe faltam: os produtos chegarão mais baratos à mesa do consumidor, porquê? Porque produzir internamente é, realmente, muito caro, não há incentivos, não há produção nacional de equipamentos, não há um sistema logístico e de distribuição comercial decente, e a mobilidade, bem, esta nem precisa de muitas explicações, basta ouvir as notícias desta semana, está tudo o que é ponte ou passagem hidráulica a ceder. Eu defendo a produção nacional, mas é necessário realismo também. Não temos nem produção de milho para ração, o resultado é o que está a acontecer com o preço do ovo. O feijão, este está a tornar-se ouro. Nesta hora, o discurso deve ser mesmo o do apertar o cinto e ver como se faz para produzir algum. A importação não está a ser substituída, apenas não há dinheiro.