Jessica Mary hand: mais importante para um investidor é um ambiente de negócio fiável, transparente, que não muda diariamente”

Jessica Mary hand: mais importante para um investidor é um ambiente de negócio fiável, transparente, que não muda diariamente”

Londres acolhe na Segunda-feira, 20 de Janeiro, a Cimeira de Investimento Reino Unido-África. Na entrevista que se segue, a Embaixadora do Reino Unido em Angola, Jessica Mary Hand, fala dos obejctivos do evento.

Como caracteriza as relações entre Angola e o Reino Unido?

As relações são boas e fortes, mas podemos fazer ainda mais. Temos grandes possibilidades de abordar novos sectores e desenvolver uma parceria mais completa e ampla.

O que pode ser feito mais?

Particularmente no sector empresarial. Os investidores britânicos devem saber mais sobre as possibilidades de investimento em Angola. Temos possibilidades para desenvolver a cooperação no domínio da Educação, no ensino da língua inglesa e do comércio, de modo geral.

Existe algum projecto específico para o ensino da língua inglesa em Angola?

Começamos com os nossos parceiros e agências, através de um programa denominado “English Connect”, destinado aos países não anglófonos para abrir possibilidade de aprender por via de diferentes plataformas: online, rádio e televisão.

Em que sectores não petrolíferos pretendem expandir a cooperação com Angola?

É verdade que o nosso foco foi o petróleo, através da British Petroleum (BP), mas temos projectos financiados pela nossa agência britânica de investimento estrangeiro nos sectores da agricultura, saúde e distribuição de energia. Começamos a responder às prioridades para o desenvolvimento de Angola.

O Reino Unido tem bastante experiência na produção de energias renováveis e Angola dispõe de condições climáticas para o efeito. O que pode ser feito neste domínio para resolver o problema da energia aqui no país?

As nossas empresas, como a BP, fazem estudos sobre a possibilidade de fontes de energia renovável. E pode ser o sol, o vento e outras fontes. Isso pode ser importante por duas razões: o petróleo é um recurso que não dura para sempre. É necessário identificar outras fontes e recursos. Falamos muito sobre as mudanças climáticas, logo, é muito importante identificar outras fontes de geração de energias limpas.

Que informação os investidores britânicos têm sobre o mercado angolano?

Neste momento os investidores britânicos não sabem, ao detalhe, as reformas em curso em Angola e as possibilidades de investimento, nem a real situação económica. É necessário que os angolanos, e nós também, publicitem todo o tipo de informação sobre as mudanças e as possibilidades de investimento em Angola. Tenho que dizer que vemos muito mais interesse em Angola do que nos últimos três anos.

“As estatísticas são importantes, mas os contactos humanos são mais importantes”

Em Fevereiro do ano passado, uma delegação de 11 empresários britânicos foi recebida pelo Presidente João Lourenço e o chefe da missão prometeu investir 20 mil milhões de dólares, essa intenção se mantém?

(Risos)… . O processo de investimento tem tempo. Tempo para identificar as possibilidades, para desenvolver os planos e concretizar os acordos. O processo continua. É um processo contínuo.

Acredita que este ano possa haver a assinatura de acordos nesse âmbito?

Esperamos. Temos acordos de algumas empresas que não estavam nessa delegação. É possível que isso se concretize.

A senhora disse que os investidores britânicos têm pouca informação sobre as possibilidades de investimento em Angola. O que um homem de negócios britânico espera encontra num determinado mercado?

O mais importante para todos os investidores é um ambiente de negócio fiável, transparente, que não muda de dia para dia. Eles podem trabalhar num ambiente não completamente estável ou perfeito, mas querem saber sobre as possibilidades jurídicas para resolver eventuais problemas, as possibilidades de contactar, se necessário, os ministros ou as diversas autoridades para falar sobre determinado problema. E gostam de um ambiente aberto para as negociações, para tomarem decisões.

O que representa para os investidores britânicos as perspectivas das agências internacionais sobre a economia angolana (a consultora britânica, Economist Intelligence Unit, é uma delas), a par do Doing Business?

As estatísticas são muito importantes para criar uma atmosfera estável, mas os contactos humanos são os mais importantes para saber que tem um parceiro fiável e estável, que vai sempre responder aos e-mail’s e às mensagens, no telefone – se necessário. É necessário ter os dois: as estatísticas e os contactos humanos.

Londres acolhe a Cimeira de Investimento Reino Unido – África. Qual é a motivação e que resultados esperam?
A Cimeira visa criar mais confiscação e meios de contactos entre os investidores britânicos e os mercados africanos. Temos relações estáveis com a maioria dos países africanos, mas não relações suficientemente dinâmicas com os mercados e economias em desenvolvimento, como Angola. É importante também associar ao Brexit, – processo da saída do Reino Unido da União Europeia. Então, é necessário ao Reino Unido criar novos parceiros, principalmente económicos, para que a nossa economia continue a crescer.

Acredita que Angola pode atrair investidores britânicos com a Cimeira?

Pessoalmente, acho que sim. Na minha experiência em Angola, durante dois anos, noto um país focado na melhoria da situação económica e preocupado em atrair investimentos, com países que anteriormente não tinham relações económicas com
o Governo. Angola sempre teve parceiros tradicionais como a China e a Rússia, mas com os países europeus não. Os países europeus não foram muito privilegiados, mas agora Angola muda de visão, a política do Presidente é muito mais global e aberta. Acho que Angola tem muitas possibilidades.

E quais são os desafios?

Informar claramente sobre as mudanças e a situação actual da economia, as condições para criar uma empresa, a cultura do comércio e como começar esse diálogo.

Quais são os principais mercados em África que interessam ao Reino Unido?

Mercados em desenvolvimento potencial para criar novas parcerias, tais como Moçambique, Egipto, Angola, Senegal e Ghana. São países com sinais de criação de maiores dinâmicas e com populações jovens, com potencial para inovar.

“A nossa saída vai permitir maior flexibilidade para seleccionar os parceiros e negociar os acordos de forma mais confortável”

O Brexit é o mote dessa Cimeira. Está confirmada a saída no dia 31 de Janeiro do Reino Unido. Sai da União Europeia?

É isso. Dia 31 é o dia da saída e é o dia da mudança também.

Que pilares sustentam o projecto Brexit?

O Brexit é um processo de independência do Reino Unido. O Reino Unido pensa que tem um status de independência. É uma tradição. O Governo e a população são de opinião que o Reino Unido opere como um país independente, do que fazer parte da União. As relações entre o Reino Unido e a União Europeia vão continuar, mas numa base diferente. Há quem considere a decisão do Reino Unido uma “traição” ao projecto da União Europeia.

O que o reino Unido ganha com a saída?

A nossa saída vai permitir maior flexibilidade para seleccionar os parceiros e negociar os acordos de forma mais confortável para nós. Saímos daquele processo de equilibrar os interesses com os outros. Acham que o projecto União Europeia está em desuso ou em decadência? Não. Esse processo não significa que nós pensamos que a União Europeia é um desastre ou uma coisa negativa, mas decidimos que esse momento não é para nós. Não julgamos a União Europeia. A nossa experiência nesse grupo não foi o que esperávamos para o nosso país.

Não receia que venham a liderara um processo de desintegração da União Europeia?

A Noruega nunca entrou. (Risos) … Espero que não. Não foi a intenção. A intenção foi apenas fazer o que é bom para o Reino Unido. A União Europeia vai continuar a trabalhar e nós vamos criar novas políticas para trabalharmos juntos.

Há especulação no sentido de que o Brexit é uma agenda em linha com a Administração Trump. Confere?

O Reino Unido é um país independente e temos as nossas próprias decisões. Temos relações muito fortes com os Estado Unidos, mas somos um Estado soberano e sem influência dos outros. Entre as suas prioridades em Angola consta o apoio ao desenvolvimento da democracia. Como pensa fazer isso? Estamos envolvidos em processos sobre direitos humanos, reforma económica, luta contra a corrupção e o desenvolvimento do sector do ambiente. A desminagem também consta nas nossas prioridades, para criar um país seguro.

Existe algum projecto específico virado à educação cívica para a cidadania?

Ainda não, mas pensamos sobre isso. Temos uma nova estratégia que passa pelo engajamento dos jovens na vida política e social. Como avalia o processo de combate à corrupção em curso em Angola? Tem um progresso suficientemente sério e compreendemos que é um assunto muito difícil e um desafio complexo, que carece de tempo para assegurar que as investigações são feitas de maneira objectiva, séria e transparente, para apoiarmos as investigações e vermos como Angola pode trabalhar com as autoridades jurídicas britânicas.

Que outros apoios o Reino Unido prestaria a Angola na prevenção de fuga de capitais?

O nosso sistema bancário tem mecanismos para identificar transações anormais. Esse mecanismo nos permite interrogar a origem da transição e pretendemos partilhar com Angola.

Existe algum acordo que permita Londres arrestar eventuais patrimónios de cidadãos angolanos implicados com a justiça?

Nesse momento não temos qualquer acordo, mas existe essa possibilidade. Estamos dispostos a colaborar, mas é necessário criar as condições jurídicas para o efeito. Como olha para a acção das organizações da sociedade civil? Temos impressão que as pessoas têm mais confiança para falar e expressar as suas opiniões sem medo nem constrangimentos. Isso é muito positivo.