Habitantes do leste do país aflitos com a paralisação da Macon

Habitantes do leste do país aflitos com a paralisação da Macon

A partir de Terça-feira, 14, as pessoas que circulam pelas três províncias acima mencionadas passaram a ter de recorrer à via área ou a viaturas particulares que arisquem fazer serviço de táxi na rota Malanje, Cuanza-Norte e Luanda. O presidente do Movimento Cívico do Leste de Angola “Akwa Mana”, Guilherme Martins, manifestou, em declarações a OPAÍS, que embora considerem que a empresa tomou a medida certa, atendendo ao avançado estado de degradação em que se encontram as Estradas Nacionais (EN) 230 e 225, no troço Lunda Norte/Luanda, ficaram bastante tristes. “Para nós, a Macon tomou uma medida certa. Já devia ter feito isso para evitar possíveis danos humanos, porque de materiais a empresa já tem estado a suportar demonstrando que ama muito as populações do Leste”, frisou.

Sublinhou que tal “amor” da empresa pelos habitantes destas três províncias foi manifestado ao manter os seus meios a circularem desde o alcance da paz até à semana finda, em condições adversas, com vista a garantir a sua movimentação em melhores condições de comodidade e segurança. Segundo Guilherme Martins, a picada alternativa ao tapete asfáltico da EN 230 nunca ofereceu condições para a transitabilidade. Considera que a Macon foi mostrando paciência, somando prejuízos, mas chegou ao limite e, antes que o pior aconteça, entendeu tomar essa decisão.

“Lamentamos porque essa paralisação prejudica milhões de cidadãos que aqui vivem. Se para algumas regiões do país, exemplo Cabinda onde se pode ir de avião, tem-se como alternativa o barco, para o leste não existe mais alternativa. Para se deslocar ao Dundo, Saurimo, Luena, a partir de Luanda, passando por Malanje, a alternativa que temos é a via área”, disse. Entretanto, Martins fez referência às companhias aéreas que não têm rotas que ligam as três províncias entre si. Normalmente, quem estiver em Saurimo e pretender ir ao Dundo ou Luena via aérea tem de se deslocar primeiro a Luanda e daí apanhar um voo até ao seu destino.

‘País volta a estar ilhado’ Em seu entender, a situação está a fazer com que muitas populações vivam ilhadas, à semelhança do que ocorria na época do conflito armado. “A suspensão de circulação rodoviária entre a assembleia Nacional façam chegar as reclamações das pessoas que os elegeram a quem de direito.

O mesmo aconselha-se aos naturais e amigos do Leste. “Nós, como activistas cívicos, resta-nos apenas procurar promover uma manifestação. Sair à rua, à luz do estabelecido na Constituição e de mais leis em vigor no país, fazendo ouvir a voz das populações sofredoras de todos os habitantes do Leste. É preciso corrigir o que está mal, mas já não é o que está mal, agora é o que está pior”, disse Guilherme Martins.

O presidente da Akwa Mana teme que a situação possa vir a piorar nos próximos dias, caso os camionistas que circulam por essa região decidam proceder da mesma forma, uma vez que aumentará o custo de vida. “Com o famoso IVA [Imposto sobre o Valor Acrescentado] acho que a situação das populações do Leste vai ser mais difícil do que a que se enfrentou no tempo da Guerra”, frisou.

Realça que “é tempo de as autoridades de direito, no caso os Ministérios da Construção e dos Transportes, reverem o preço dos bilhetes de passagem nessas províncias”. Segundo Guilherme Martins, a Macon nunca suspendeu por questões de preços, sendo que no passado o bilhete chegou a custar 14 mil, entretanto, estava a ser comercializado 12 mil kwanzas para facilitar o pacato cidadão. No seu ponto de vista, o Estado deveria estimular a criação de rotas aéreas entre as capitais das três províncias ou subvencionar os preços dos bilhetes de passagem da TAAG de modo a que pudessem baixar pelo menos 10 mil kwanzas.

Por mais oneroso que possa vir a ser, urge facilitar a deslocação das famílias mais carenciadas entre Dundo, Saurimo e Luena. “Actualmente, o preço da passagem na TAAG ronda entre 70 a 75 mil kwanzas, ao passo que nas companhias privadas está a 50 mil. Imaginem quantas pessoas e quantos voos serão precisos por dia para que essas pobres populações possam deslocar-se a Malanje, Cuanza-Norte ou chegar a Luanda…”. Ainda neste âmbito, alertou que esses voos não levam os produtos do campo: “Como ficará o comércio para as populações que são abastecidas com os produtos que não saem do litoral para o interior e vice-versa?”

“Não dá mais para continuar a operar em Saurimo e muito menos no Dundo”

Por sua vez, o Coordenador Comercial da Macon, Armando Macedo, declarou, a OPAÍS, que de um tempo atrás têm feitos as viagens com inúmeras dificuldades e, antes de tomarem essa decisão, informaram as autoridades de direito sobre o que se estava a passar. Além de procederem deste modo, a sua empresa também já havia disponibilizados os seus próprios meios (camiões) no sentido de realizarem uma operação tapa buraco nas referidas vias. “No âmbito da nossa responsabilidade social, temos camiões transportando cargas por encomendas e muitas vezes o usamos para transportar pedras e areia para tapamos os buracos. Só que neste momento a estrada está totalmente uma lastima e não dá mais para continuar a operar em Saurimo e muito menos no Dundo”, afirmou.

Contou que, por causa do mau estado das vias, tiveram primeiramente de fazer um desvio da rota, onde as pessoas que fossem para Saurimo passavam pelo Dundo, uma via que tem 26 quilómetros de estrada por asfaltar. De acordo com o responsável, as dificuldades de circulação pioraram e os custos operacionais aumentaram consideravelmente. O autocarro que sai de Luanda com destino ao Saurimo faz por cerca de 48 horas e alguns passageiros acabam por ficar pelo caminho, pelo que os familiares ficam aflitos e recorrem às instalações da Macon à procura de informação.

“Era muita responsabilidade para a operadora”, frisou, sublinhando que não tiveram alternativa senão suspender essa linha. Questionado sobre se têm noção dos constrangimentos que essa paralisação está a causar às populações locais, Armando Macedo disse que as autoridades responsáveis pela reparação das estradas é que devem tomar conta disso. “Nós é que somos os grandes prejudicados. Todos os dias temos de reparar pneus, a chaparia e outras peças. Uma acção que se repetia diariamente em relação aos autocarros que se saem com destino ao Saurimo”.