Naice Zulu e BC apresentam “Estado da Nação” apesar de ameaças

Naice Zulu e BC apresentam “Estado da Nação” apesar de ameaças

O álbum “Estado da Nação” da dupla de rappers Naice Zulu e BC, disponível desde ontem nas plataformas digitais, retrata satiricamente os acontecimentos sócio-político-económicos que marcaram Angola nos últimos seis meses. O principal alvo dessas críticas foi o poder judicial, concretamente os tribunais. Para Naice Zulu, que falava exclusivamente a O PAÍS, a obra aborda, por exemplo, o facto de alguns políticos estarem a responder em tribunal no âmbito do combate à corrupção, enquanto o caso Rufino é postergado pelos próprios órgãos de justiça.

O caso supra-mencionado é sobre o adolescente António Rufino, de 14 anos, que durante o protesto contra a demolição da casa dos pais, no Zango II, foi morto a tiro, em 2016. Entretanto, segundo Naice, é impossível que se queira repor a justiça, quando quem, por exemplo devesse estar a responder pelo Caso Rufino esteja à solta. O rapper acrescenta que é fundamental, independentemente de qual venha a ser a situação, que “se joguem os pratos limpos à sociedade”. No álbum, a dupla fala, igualmente, sobre “A Caça às Bruxas” e Naice Zulu, sobre isso, comentou que “bruxas não podem caçar bruxas, da mesma forma que tubarões não se comem uns aos outros”, disse. “Eu não sei necessariamente o que é, se calhar seja uma rivalidade entre os do MPLA. De certa forma, isso vai gerar instabilidades e é bem claro que isso não é de todo real ou transparente.

Está-se a camuflar sob a perspectiva de que há mudanças políticas. Na verdade, é a reorganização de um gang político”, afirmou. Questionado se acredita que haja mudança no funcionamento do país, respondeu que “as mudanças são visíveis, só que não são com as melhores das intenções, caso sejam com as melhores das intenções não têm tido o povo como prioridade”. Por seu turno, o “Estado da Nação”, sob a produção da Zonemuzic, congrega os títulos “Como Está O País”, “Azar da Belita”, “O Medo É Herói”, “Lamento da Paulinha”, “Bom Apetite”, “Chefe da Cela”, “Havemos de Voltar”, “Quase Morto”, “Máscaras”, “Casamento Importado”, “Funitel”, “Soba na Cidade” e “Arreiou Arreiou”, que totalizam em 13 faixas musicais.

Ameaçados por um desconhecido

Naice Zulu, que além de cantor é empreendedor, contou que há meses recebeu um telefonema de alguém que lhe propôs um encontro com a dupla, para falarem de negócios. Encontraram-se com três indivíduos, que a princípio iniciaram uma conversa de negócios, mas que depois começou a mudar de rumo. “Disseram-nos que estávamos a opinar bastante sobre aspectos que não devíamos opinar e que podíamos sofrer retaliações se persistíssemos nisso. Seria bem possível que não voltaríamos a ver as nossas famílias. Nos foi dito ainda que não devemos brincar com certas coisas e para não pensarmos que tudo é como é”, revelou. Naice Zulu disse que não tem medo e que uma das canções do álbum retrata sobre esse episódio. “Se calhar o Carbono foi vítima disso”, presume.