As verdades e o tempo

As verdades e o tempo

Quem tenha nascido nos anos quarenta, cinquenta e até mesmo no início dos anos sessenta, deve ter tido a presença colonial em Angola como uma realidade imutável. Era a Angola portuguesa. Mas mudou, em 1975 Angola se fez Independente. Quem acreditou que os portugueses jamais voltariam a viver do dinheiro angolano, que a construção do homem novo daria em faculdades angolanas de excelência, em assistência médica e medicamentosa para todos e urbanização das vilas, etc., enganou-se. Hoje, quando dói o dedo, a primeira coisa que os dirigentes angolanos fazem é correr para Portugal, e têm lá casas e os filhos a estudar. Quem nos anos oitenta pensava que todos o brancos sul-africanos eram racistas e que com o fim do apartheid seriam atirados ao mar, enganou-se também. Há casamentos inter-raciais por lá e, bem, nós queremos os brancos deles na nossa agricultura e até é para lá que Angola envia amostras para análises clínicas. José Eduardo dos Santos, foi-nos dito, era clarividente e deveria ser cultuado de forma religiosa. Quem viveu os anos oitenta, noventa e até dois mil e dezassete em Angola, seguramente que viu um MPLA coeso como uma rocha em torno do seu líder, mas isto também mudou, é no seio do MPLA onde há o mais vivo trabalho de destruição da sua imagem e da sua memória. Ele passou a ser um salteador, os seus fi lhos são o pior que poderia ter acontecido ao país e se alguém levar uma fotografa de Eduardo dos Santos a alguns comités do MPLA, provavelmente os militantes perguntarão de quem se trata. Rafael Marques era o herói solitário e sofrido para alguns, o agente da CIA para o MPLA, um jornalista frustrado para outros e hoje é aliado de João Lourenço, presidente do MPLA. Há gente rica que ainda há dois anos era associada ao que seria o marimbondismo, a fazer cair presidentes por causa da corrupção, quase sarnenta, e que hoje está de bem com o poder e até, pasme-se, com revus anti-corrupção. Bem dizia Luís Vaz de Camões: “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”.