A mãe das cidades

A mãe das cidades

Não é pelos jardins que estão abandonados, feios e com capim como mato. Não é pelo lixo acumulado nos contentores que enfeitam as ruas. Não é pelos buracos que se instalaram e se multiplicaram por quase todas as ruas. Não é pela poeira pronta a maquilhar os rostos bonitos das mulheres e das crianças, podendo até criar problemas oftalmológicos. Não é pelo calor que se instala na pele num abraço salgado e pegajoso. Não é por se perceber, claramente, que falta dinheiro para a Administração fazer melhor, que a gestão agora é marcadamente política para manter a esperança, para agarrar os fi éis. A promessa é sempre um pouco de vida acrescentada, porque brota esperança, e esta é teimosa. Benguela é agora uma cidade completamente diferente do que foi, está triste, nota-se-lhe pobreza no rosto que reclama do abandono. Não sabe se se vira para dentro ou para Luanda. Como o resto do país, não criou reservas internas para os momentos menos bons. Benguela parece um pouco perdida no tempo, hesitante quanto ao rumo a seguir. Sem forças. Benguela não sabe e talvez nem tenha a quem culpar. A Governação é atacada, mas de forma pouco consistente, porque também ela está de mãos atadas e tem de apostar naquilo que julga serem as prioridades absolutas. Mas não é por nada disso que Benguela fere a alma, é pelos rostos despidos de dignidade que se espalham pelas ruas a pedir esmolas. A mãe das cidades está de mão estendida.