18 professores partilham uma residência T2 em Sanganozé

18 professores partilham uma residência T2 em Sanganozé

Em entrevista exclusiva a OPAÍS, os professores da escola 7.022 clamam por melhores condições de trabalho, uma vez que os mesmos passam por necessidade para se deslocar ao local de trabalho. Na única residência T2 (com dois quartos) que a escola dispõe para os professores habitam 18 profissionais de ambos os sexos. Eles dividem os quartos com outras meninas e dormem em colchões que também não chegam para todos. Segundo o professor, Kimbanzé Alfredo trabalhar nessa localidade tem sido difícil, devido à falta de condições, mas ainda assim não se deixam desmoralizar por essa insuficiência. “Temos tido coragem por ser uma profissão que está mesmo na alma e sem ensinar nos sentimos mal. Não temos meios de transporte e dormimos em condições precárias, mas ainda assim continuamos a trabalhar”, disse.

Contou o professor que devido a essa situação alguns são obrigados a dormir em salas de aulas com muito sofrimento. “De um lado dormem as meninas e do outro os rapazes e no momento de trabalho temos de ficar aqui, às vezes, durante a semana toda por falta de transporte”, disse. Uma vez que o principal objectivo é conferir mais qualidade ao sistema educacional, Kimbanzé Alfredo, apela a quem de direito que mude as condições sociais dos professores dessa localidade e prime pela qualidade. “Pelo menos um bom dormitório, alimentação, camas condignas, residência própria, porque aqui há um risco em nos misturarmos com as próprias meninas, usamos uma única casa de banho e o que nos divide é apenas um corredor, por isso pedimos ajuda”, clama.

Há muita vontade de trabalhar, mas as condições não ajudam

De acordo com Kimbanzé Alfredo, há muita vontade de trabalhar, mas as condições não ajudam. O professor, que sempre trabalhou no município da Quissama e conta já com 30 anos de serviço, salientou que nunca se tinha deparado com essas condições duras. Quem é da mesma opinião é o professor do ensino primário, Dionísio Micanda, que fez saber que trabalhar nesse município tem sido um desafio, por causa das inúmeras dificuldades que enfrenta.

O professor que tem a sua residência em Luanda, no município de Viana, trabalha há nove anos na educação, contou que a falta de água, estadia e deslocação é o calcanhar de aquiles da localidade de Sangano. “A deslocação, alimentação, estadia e os poucos locais de buscas de recursos de ensino para as crianças tem sido um problema grave. Sabemos também, que o professor tem o dinamismo de auto adaptar-se, pega na sua própria realidade e transforma na realidade que ele vive e assim conseguimos trabalhar para ensinar os alunos, mas não tem sido fácil”, disse.

Professores que partilham a residência saem de outras localidade

Eva João fez saber que muitos dos professores que dividem a residência saem de outras localidades que também não têm condições, mas o amor à camisola fala mais alto e os mesmos suportam tudo. Aproveitou a ocasião e pediu para que quem de direito que olhe também para alguns subsídios e mude esse quadro do subsídio de transporte, assistência a alimentação, uma vez que o município tem serviços sociais e recebe alguns mantimentos, mas eles como professores não são beneficiados. Uma outra inquietação do professor é com os materiais de língua portuguesa que não chega a essa escola, mas que os mesmos encontram com uma facilidade no mercado informal, um quadro que gostaria de ver mudado nesse novo ano lectivo para o bem das crianças dessa escola.

A directora da escola 7.022, Eva João, foi clara em afirmar que um dos problemas que enfrentam é a falta de residências para os professores, que percorrem longas distâncias para trabalharem, sendo que muitos são provenientes da cidade de Luanda e encontram dificuldades devido à falta de transportes. A responsável fez saber que têm apenas uma residência para cerca de 20 professores e sem condições. “Atendendo aqui a situação do Sangano, precisamos muito de apoio. Peço aos nossos órgãos superiores que olhem para essa situação”, apelou.