Semelhança do “4 de Fevereiro” angolano e venezuelano abre Maka à Quarta-feira de 2020

Semelhança do “4 de Fevereiro” angolano e venezuelano abre Maka à Quarta-feira de 2020

A semelhança histórica do 4 de Fevereiro angolano e venezuelano foi o mote da primeira edição do projecto “Maka à Quarta-feira” para o ano de 2020, realizada nas instalações da União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda. Na ocasião, falava o embaixador da República Bolivariana da Venezuela em Angola, Marlon José Peña Labrador, que pôde perceber ainda mais sobre a semelhança da referida efeméride entre os dois países, após ter lido a entrevista do historiador Cornélio Caley prestada ao Jornal de Angola.Labrador citou o artigo, que começou explicando que “Era Sábado e o calendário assinalava 4 de Fevereiro de 1961. O dia despertou com um movimento estranho.

Um grupo de homens determinados, liderados por Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Manuel Mateus, Imperial Santana e Virgílio Sotto Mayor, num total de cerca de duzentos, desencadeou um conjunto de acções em Luanda”. Segundo ele, desta forma também aconteceu no seu país, ressaltando que o que muda é, somente, o nome dos protagonistas, que na Venezuela foram cinco tenentes- coronéis, bem como os anos, tendo em Angola acontecido em 1961 e na República Bolivariana em 1992, ou seja, há 28 anos. “Na Venezuela, o retiro de 4 de Fevereiro era libertar o país, era formar um movimento que proclamasse a segunda independência da república”, lembrou o diplomata. Marlon Labrador fez saber ainda que uma das lembranças que tem do Centro de Estudos Africanos em Caracas é em relação as poesias de Agostinho Neto.

Literatura na Libertação Nacional

Noutro eixo, subordinado ao tema “Nacionalismo angolano” o historiador Cornélio Caley destacou o papel da literatura no itinerário histórico de 4 de Fevereiro. “No dia 4 de Fevereiro segurou- se nas catanas, mas há aqueles que seguraram nas penas para escrever no fim do século XIX e as coisas em Angola mesmo que tenham começado antes, o homem que vivia neste território sentiu que estava a perder a sua dignidade e personalidade”, contou. O historiador lembrou que da maneira que se vivia na época, o núcleo social detinha as suas tradições e costumes, com força suficiente para se defender daquele que viesse pisar o seu terreno. Interessa dizer, de acordo com o académico, que as coisas começaram entre os angolanos com influência indirecta daqueles que foram levados para o ocidente: escravos e afrodescendentes, que traziam memórias recriadas.

Para Caley, no último quartel do século XIX, começaram a surgir na história de Angola escritores, poetas e jornalistas que ousadamente mostraram que além das catanas, ”podia-se lutar com a caneta”. Desta forma, nascem os grandes escritos e as grandes obras do pan-africanismo. Quanto a Angola, conta, as coisas adaptam-se ao novo rumo. “Entrámos na clandestinidade em Portugal, quando Salazar ascende ao Poder. Ou seja, já havia o espírito de produção de textos. Não tínhamos espaço. E houve necessidade de se fazer recolha da tradição oral”, clarificou. No fim da Segunda Guerra Mundial, conforme explica Caley, quando o mundo despertava, sobretudo a Ásia, Angola também despertou. Por seu turno, acrescenta que o grande quarteto formado por Agostinho Neto, Pinto de Andrade, António Jacinto e Mário António lançou o projecto “Vamos Descobrir Angola”, na perspectiva de encontrar-se a realidade da ancestralidade e de despertar o angolano para a consciência do nacionalismo. “Nasce assim a Literatura Moderna, que se forja, principalmente, junto da Casa do Estudante do Império em Angola. E essa literatura desembocou necessariamente para a política”, afirmou.

A data

Este ano, o país celebrou 59 anos desde que um grupo de cidadãos empenhou- se em corporizar o início da luta armada de libertação nacional. Destemidos filhos da pátria elevaram as suas vozes e punhos semicerrados contra o colonialismo português, arriscando as suas próprias vidas em prol de um bem comum: a construção da Nação angolana, livre da opressão.