Os mercados de acções asiáticos vacilaram e as cotações do yen, ouro e títulos subiram depois que os novos números da província de Hubei frustraram as esperanças de que a epidemia estivesse a se estabilizar e a economia chinesa pudesse se recuperar rapidamente. As autoridades de saúde de Hubei disseram que 242 pessoas morreram devido ao vírus da gripe na Quarta-feira, o aumento mais rápido na contagem diária desde que o vírus foi identificado, em Dezembro. Isso elevou o total de mortes na China para 1.367, um aumento de 254 em relação ao dia anterior, informou a Comissão Nacional de Saúde. O aumento nos números ocorreu um dia depois que os mercados aplaudiram o facto de a China registar o menor número de novos casos em duas semanas, reforçando a previsão do consultor médico do país de que a epidemia poderia terminar em Abril.
Anteriormente, Hubei havia permitido apenas que as infecções fossem confirmadas por testes de RNA, que podem levar dias para serem processados. O RNA, ou ácido ribonucleico, transporta informações genéticas que permitem a identificação de organismos como vírus. Mas começou a usar tomografias computadorizadas (TC) mais rápidas, que revelam infecções pulmonares, disse a comissão de saúde de Hubei, para confirmar casos de vírus e isolá-los mais rapidamente. Como resultado, outros 14.840 casos foram notificados na província central na Quinta-feira, de 2.015 novos casos em todo o país no dia anterior.
Cerca de 60.000 pessoas já foram confirmadas como portadoras do vírus, a grande maioria na China. O novo procedimento de diagnóstico pode explicar o aumento das mortes, disse Raina McIntyre, chefe de pesquisa em bio-segurança do Instituto Kirby da Universidade de New South Wales. “Presumivelmente, há mortes que ocorreram em pessoas que não tinham diagnóstico laboratorial, mas tinham tomografia computadorizada”, disse ela à Reuters. “É importante que estes também sejam contados.” O novo teste está a ser usado apenas em Hubei, disseram as autoridades.
Tntativa de redução?
Consultancy Capital Economics disse que o aumento não aponta necessariamente para uma aceleração na propagação do vírus, mas que os números oficiais subestimam a sua prevalência. “Por enquanto, os números mais recentes não parecem minar os recentes sinais de que a propagação do vírus pode estar a diminuir”, afirmou. O surto, que se acredita ter emergido no final do ano passado, de um mercado em Wuhan, onde animais selvagens eram comercializados, ilegalmente, é um dos maiores testes que o governo chinês enfrenta há anos e a culpa recai sobre os líderes provinciais. A mídia estatal disse que o chefe do Partido Comunista da província, Jiang Chaoliang, foi demitido como secretário do Comité Provincial de Hubei, e Ma Guoqiang foi destituído como chefe do partido na capital da província, Wuhan. Não deu uma razão para as demissões, mas as duas são as autoridades chinesas mais destacadas a serem retiradas de serviço desde o início do surto.
“É uma longa tradição política culpar as autoridades locais, direccionar a raiva do povo para as autoridades locais e não para a liderança”, disse Willy Lam, especialista em política chinesa na Universidade Chinesa de Hong Kong. A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse, na Quarta-feira, que o número de infecções na China se estabilizou, mas é muito cedo para dizer que a epidemia está a desacelerar. Os cientistas chineses estão a testar dois medicamentos anti-virais e os resultados preliminares de ensaios clínicos estão a semanas de distância, mas uma vacina pode levar 18 meses para se desenvolver. Centenas de infecções foram relatadas em mais de duas dúzias de outros países e territórios, mas apenas duas pessoas morreram pelo vírus fora da China continental – uma em Hong Kong e outra nas Filipinas.
‘ISTO É REAL?’
O maior conjunto de casos fora da China está num navio de cruzeiro em quarentena no porto japonês de Yokohama, onde outros 44 casos foram registados, na Quinta-feira. No total, 219 das cerca de 3.700 pessoas a bordo testaram positivo. Houve um final feliz para outro navio de cruzeiro, o MS Westerdam, que atracou no Cambodja após ter sido negado o direito de atracar em Guam, Japão, Filipinas, Taiwan e Tailândia, com medo de que um dos seus 1.455 passageiros e tripulação (802) possa ter o vírus, mesmo que ninguém tenha testado positivo. “Ver a terra foi um momento de tirar o fôlego”, disse, à Reuters, Angela Jones, uma turista americana no navio. “Eu pensei: isso é real?”