Posso escolher a loja?

Posso escolher a loja?

Ao que parece, o Estado angolano tem uma avença em lojas de roupa para que os jornalistas se abasteçam de fatos e gravatas, indispensáveis na apresentação pessoal para a cobertura de eventos do Governo. O caso da Lunda-Norte foi apenas um exemplo, as autoridades olham para os jornalistas como meninos travessos que em determinada hora devem ser obrigados a tomar banho, escovar os dentes e vestir-se decentemente porque o chefe vai chegar. Um pouco como as mães e os filhos à hora da chegada do chefe da família. Acontece que o chefe da família que quer os filhos bonitos deve comparar-lhes roupa e proverlhes educação também. Com os míseros salários que se paga em Angola, dos quais não escapam os jornalistas, com o calor que faz neste país, a exigência deste tipo de traje como condição para se trabalhar na cobertura de eventos ofi ciais só pode ser um insulto. Nem toda a gente passa o dia ao arcondicionado. Curiosamente, aos jornalistas estrangeiros, mesmo aqueles a quem se gosta muito de dar entrevistas, não se exige uma tipologia especial de traje, porque se faz aos angolanos? Esta não é uma profi ssão qualquer, tanto podemos estar num gabinete de manhã como podemos sair daí e seguir para um mercado imundo, tanto podemos chegar a um sítio com o carro da empresa, como podemos ter de apanhar um kupapata ou um candongueiro, ou mesmo andar na carroçaria de um camião. Julguem-nos só pela qualidade do nosso trabalho, porque pela vestimenta, desculpem, por aquilo que algumas gravatas fazem neste país, por favor, não nos confundam.