O último adeus a António setas

O último adeus a António setas

O Conselho de Administração do Grupo Media Nova e a direcção do Jornal OPAÍS, na sua mensagem dirigida à família de António Correia de Lacerda Setas, manifestaram profunda consternação pelo seu passamento físico. Um profissional que abraçou, logo na primeira hora, há 11 anos, o desafio de tornar aquele que seria o maior grupo de comunicação social privado do país numa referência pela qualidade dos conteúdos que seriam divulgados numa das suas publicações impressas, o Semanário Económico.

Graças ao seu enorme contributo, essa publicação transformou-se numa referência, na época, daquilo que de melhor em jornalismo económico se fazia no país, facto confirmado com a atribuição de diversas distinções, como o Prémio Nacional de Jornalismo e o Prémio Maboque de Jornalismo. Mais tarde, com a extinção desse órgão, foi transferido para o jornal OPAÍS, onde continuou a exercer as mesmas funções, contribuindo na formação profissional e humana de vários profissionais da casa.

Mais do que um colaborador, António Setas transformou-se num dos membros mais valiosos da equipa, pelo seu empenho e dedicação na partilha de conhecimento com os mais jovens. Para as pessoas que privaram directamente com ele, representava uma combinação perfeita de dedicação e entrega ao trabalho e um exemplo de virtudes e de valores.

Um homem culto Portanto, fica-nos o exemplo de um homem muito culto, exímio jornalista e escritor de alma que foi capaz de se entregar aos outros e pelos outros, sem o menor esforço para dar nas vistas. Além de António Setas ser um colaborador, foi pai, avô, tio, amigo e companheiro de bancada. Perdemos na redacção uma enciclopédia viva que não se coibia de ajudar na hora. OPAÍS fica mais pobre, Angola perde um dos seus melhores filhos.

Um exímio profissional

Por outro lado, o colectivo de trabalhadores do Jornal Folha 8, encabeçado por Nvunda Tonet, em representação de seu pai, William Tonet, na mensagem dirigida a família, descreveu o malogrado como um homem, pai, avô, amigo, colega e exímio profissional. Um jornalista, um responsável do Folha 8, que cultivava, em papel, as mais sublimes letras que compunham a mensagem, que acantonava, a cada dia, o leitor a uma atenta leitura. “Hoje, ao sentirmos a ausência do seu lead e degustosos parágrafos, perguntamo-nos as razões deste até breve, quando sabemos nunca teres mudado de barricada.

A barricada de um homem de esquerda, cada vez mais raro no jornalismo actual e solto a tentação do vil metal, que muitas vezes apunhala amigos e colegas de profissão”, diz a mensagem. Acrescentando: “sempre te vimos fiel à utopia de um país mais plural, igual, de liberdade e democrático, distante do estigma de a democracia ter, em África e em Angola, este nosso torrão, de ser definida pela discricionariedade de quem esteja no poder, violando todas as somas e vontades do cidadão soberano na vontade e decisão de escolher quem melhor o pode representar e não quem melhor o pode afogar no sonho de ser livre, enquanto jornalista”.

“Várias vezes foste tentado a bater com a porta, face ao baixo salário de um projecto de imprensa de esquerda como o Folha 8. Do pedestal da tua humildade, teimaste em não me abandonar, em não nos abandonar, em não me trair, em não nos trair”, disse Nvunda Tonet.

Prémios de Setas

António Setas dedicou-se à escrita e obteve galardões como Menção honrosa do Prémio Literário Sagrada Esperança, em 2001 e 2002. Prémio Literário Sagrada Esperança, em 2003. Igualmente, o Prémio Cidade de Luanda de Literatura, em 2004 e 2005. Menção Especial do Júri do Prémio Sagrada Esperança, em 2005.