Desabafo: “O meu corpo não está à venda, trabalho apenas usando a minha voz”, desabafa Lina Alexandre

Desabafo: “O meu corpo não está à venda, trabalho apenas usando a minha voz”, desabafa Lina Alexandre

Hilário João

Durante mais de uma hora de conversa, a cantora Lina Alexandre falou do desenvolvimento da mulher angolana na arte musical e os problemas que afl igem não só as mulheres, como todos os músicos no país. Sobre o assédio sexual no “Mundo da Música”, a cantora disse que existe e reprova este tipo de actitudes por parte de produtores e promotores de espectáculos. Lina Alexandre afirmou que já foi vítima, quando foi pedir patrocínio a um empresário e o mesmo queria algo em troca. “O meu corpo não está à venda, trabalho usando apenas a minha voz. Deram-me um cheque, para dar o meu corpo, não aceitei e rasguei-o em frente desta pessoa”, desabafou a cantora.

A cantora disse que muitas mulheres cantoras já foram vítimas desta prática, não só de empresários. Questionada sobre o estado actual da música no feminino, Lina Alexandre respondeu que muita coisa vai mal. Argumentou que muitas cantoras não têm espaço para espectáculos porque existe um grupo de produtores musicais que favorecem sempre as mesmas pessoas nos espectáculos, enquanto outras cantoras que têm muita qualidade e preservam os nossos ritmos ancestrais não são tidas nem achadas. A cantora ressalva que o mesmo não acontece só com as mulheres cantoras, com os homens também.

Projectos

Sobre os seus projectos, Lina Alexandre referiu que pretende lançar, ainda este ano, o seu terceiro disco e tem intenção de abrir uma escola de música em Luanda, como forma de passar o testemunho aos mais jovens.

Percurso

Lina Alexandre emerge no panorama musical angolano optando por uma estratégia de valorização do cancioneiro tradicional, sobretudo em língua Kikongo, reutilizando uma prática artística passível de se estabelecer um paralelo, pela incidência no recurso à tradição oral, com a génese da obra deixada pelo carismático Teta Lando. Cantora de múltiplos recursos artísticos, Lina Alexandre iniciou a prática do canto com os pais, aos seis anos de idade, pela frequência assídua na Igreja Anglicana, de
1975 a 1980, e integrou, como corista, “Os Peregrinos”, uma formação musical, familiar, de propensão gospel e religiosa, com Adão Alexandre, Matondo Alexandre, Guerra, Ernesto e Mateus.

De notar que Cananito Alexandre, embora não integrasse o grupo, foi o grande impulsionador e compositor do grupo. Filha do reverendo Alexandre Domingos e de Beatriz Alexandre, Marcelina Huna Alexandre, seu nome próprio, nasceu no Uíge, no dia 26 de Junho de 1964. Licenciada em sociologia na Alemanha, país onde viveu de 1989 a 2004, Lina Alexandre pertence a uma notável dinastia de músicos, dos quais se destacam: Cananito Alexandre, Adão Alexandre, Matondo Alexandre, (irmãos) João Alexandre e Toya Alexandre (sobrinhos).