Nunca um vírus nos humanizou tanto

Nunca um vírus nos humanizou tanto

Afinal, ao fim e ao cabo, nos momentos importantes, as pessoas são apenas isso mesmo: pessoas. Seres humanos. Com todas as fragilidades físicas e emocionais, hoje, como há milhares de anos. O Covid-19 tem o mérito de nos fazer lembrar desta nossa condição. A tecnologia é diferente, mas suponho que nos tempos bíblicos a lepra tenha tido os mesmos efeitos, assim como a peste negra na Europa mais de mil anos depois de Cristo. As pessoas são igualadas perante situações que nada têm a ver com as suas riquezas ou poder, saúde é saúde.

E ponto. O Covid-19 levou as pessoas a sentirem medo outra vez, temor de algo desconhecido, que não se vê a olhos nus. Levou as pessoas a agir por instinto, a reagir em conjunto, ainda que de forma paranoica. A cuidar da sobrevivência da carne. Há governantes infectados, estrelas de cinema, presidentes a submeter-se a testes, somos todos humanos. A histeria faz disseminar milhares de notícias falsas… a nossa humanidade é sempre imaginativa, às vezes alucinada. Um Presidente se esqueceu dos aliados e cortou os voos para a Europa.

O Ocidente não quer ter a vergonha de reconhecer que um medicamento vem de Cuba. Isto também é muito humano: a rígida pose perante a inevitável morte. Chamamlhe orgulho. Na Itália, as pessoas voltaram a se redescobrir. Cada uma na sua casa, bairros inteiros formaram bandas musicais a partir das varandas e janelas. Ainda ontem não se cumprimentavam, agora cantam juntas pela esperança, contra a solidão, para se sentirem vivas com os outros. Afinal, são apenas seres humanos, como nós, atentos, temendo a nossa vez.