Debate sobre “As Mulheres Angolanas e a Arte” despoleta denúncias de assédio sexual

Debate sobre “As Mulheres Angolanas e a Arte” despoleta denúncias de assédio sexual

Hilário João

A 60ª edição do programa “Menha Ndungo” da Rádio Mais, frequência 99.1, abordou o tema “As Mulheres Angolanas e a Arte”, durante o qual foram feitas denúncias de assédio sexual quer por encenadores, quer por dirigentes, incluindo políticos. Totonha, como é conhecida nas lides das artes cénicas, foi peremptória em afirmar que existe assédio sexual na sua área de actuação (teatro), embora nunca fosse vítima deste fenómeno que aflige sobretudo as jovens actrizes.

“Eu não sofri assédio porque fui eu a líder do meu grupo até 2006, mas as mulheres sofrem sim assédio no teatro. A começar pelos encenadores. Às vezes, para que a menina receba o personagem de uma determinada obra, se não for com as gracinhas do indivíduo não vai interpretar o papel”, afirmou Totonha. Por sua vez, a coreógrafa e antiga bailarina do Ballet Tradicional
Kilandukilu, Ana Maria, durante a mesma sessão, confirmou que na disciplina em que labuta (dança) é mais grave o problema do assédio sexual sobre mulheres, tendo dito, na ocasião, que já sofrera desta tentativa, ao contrário da colega de painel.

“Já fui assediada muitas vezes, até mesmo por diplomatas nas embaixadas, em digressões fora do país. Mal chegamos no estrangeiro, eles dizem, aquela é minha, como se fôssemos um objecto”, lamentou a coreógrafa. Ana Maria fez saber que essa prática houve no passado e continua com as bailarinas actuais e as tem aconselhado a pautaremse por comportamento digno, o que a leva a adoptar medidas punitivas a quem assim proceder. “Eu digo sempre a elas que não se vendam por qualquer coisa, o corpo da mulher é um templo sagrado”, lembrou a bailarina, fazendo esse excerto muito dito e comum em profissões religiosas cristãs.

Apesar de já ter sido vítima e nunca ter cedido a qualquer tipo de chantagem, Ana Maria, ainda assim foi tratada por nomes menos abonatórios, tal como “parva”, pois se viesse a alinhar em tal prática teria muitas benesses, como carros e casas. Ainda assim, não se sente arrependida, pois tudo o que conseguiu foi fruto do árduo e profícuo trabalho, sem que necessário fosse recorrer a ajuda de homem algum.

Outros assuntos Na sequência do debate bastanParticipantes da 60ª edição do programa “Menha Ndungo” da Rádio Mais Luanda
te aceso, Ana Maria aproveitou a ocasião para lamentar e igualmente fazer um apelo do facto da dança enquanto género artístico não constar como categoria alguma nos vários concursos realizados no país.

“As pessoas olham para a bailarina como se fosse uma pessoa qualquer e esquecem-se que a dança também é uma profissão, acredito que nós continuamos a lutar para ser respeitadas, mas ainda precisa- se fazer mais “, aludiu. Questionada sobre o estado da dança actualmente no país, referiu ser necessário haver melhor qualidade. “Uma coisa é dançar e atirar o pé, outra coisa é fazer dança”, desabafou a antiga bailarina do grupo Kilandukilo.

Hilário