O passado condiciona a mudança, a crise gera oportunidades, uns arriscam, outros não

O passado condiciona a mudança, a crise gera oportunidades, uns arriscam, outros não

POR: Abdul Santos

O mundo vive momentos de incerteza e volatilidade, nada de novo, mas, por vezes temos a sensação de que a intensidade das mudanças é maior do que em tempos passados. O passado parece-nos quase sempre ter sido mais seguro e melhor do que o presente, por isso a tendência em replicarmos o que deu certo no passado e esperamos pelo mesmo resultado. É natural sermos condicionados pelo passado e ter aversão a arriscar e seguir caminhos diferentes no presente para ter sucesso no futuro. Ao dizer que “a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás mas só pode ser vivida olhando-se para frente”, o filosofo dinamarquês Soren Kierkegaard ajuda-nos a avaliar melhor os cenários possíveis e encontrar a direcção com maior probabilidade de poder levar-nos a um futuro melhor.

É aceite que a tecnologia é o um dos veículos que nos levam a um futuro melhor, e entre as diferentes tecnologias a que mais nos aproxima do futuro são as Tecnologias de Comunicação e Informação. As TIC prometem realizar na plenitude os benefícios da junção da imaginação ilimitada do cérebro humano com a infinita capacidade de execução e processamento das máquinas. Esse futuro, todavia, não acontecerá pela acção de uma varinha mágica, requer conhecimento, vontade, disciplina, perseverança e, acima de tudo, uma compreensão de que a escala do tempo medida em 12 meses e que define um ciclo anual é insuficiente para se atingirem objectivos sólidos e duradouros. Construir o futuro digital requer um entendimento da perspectiva do tempo muito mais longo do que um ano, requer planificar para um ciclo completo do calendário lunar chinês, 60 anos, ou de um século no calendário gregoriano.

A Huawei, líder mundial dos fabricantes de equipamentos de telecomunicações deve o seu sucesso, em parte, à sua capacidade de perceber a dimensão apropriada do ciclo temporal de investimento e manter o rumo não obstante as tempestades ao longo do percurso. Recentemente, a empresa abriu na sua representação em Luanda uma exposição onde mostra a sua proposta de soluções para construção da sociedade digital do futuro, mas a sua presença em Angola tem mais de vinte anos. Durante mais de cinco anos, no início da sua presença em Angola a Huawei conseguia apenas dar a conhecer ao mercado a sua capacidade e os seus produtos, que, por serem novos, eram vistos com cepticismo, mas a sua persistência e visão de longo prazo resultou. A empresa foi o principal fornecedor de tecnológica para construção das redes de telecomunicações de nova geração em Angola, desde o 4G movel à Fibra Óptica fixa de grande capacidade, tecnologias e equipamentos que permitiram o crescimento exponencial da oferta de serviços telecomunicações que se verificou de 2006 até ao início da crise.

Recentemente, no inicio do mês, a empresa deu a conhecer o investimento directo de 60 milhões de USD numa área de 8 hectares para construção de um centro de inovação e formação onde pretende desenvolver mais as suas competências locais. Numa época em que o país pretende diversificar a economia e se esforça para atrair investimento estrangeiro, o projecto mostra a sua intenção em ser um parceiro de longo prazo para o desenvolvimento das TIC em Angola. Se por um lado as maiores empresas de telecomunicações em África estão pouco interessadas no mercado angolano, pelo menos assim demonstra a resposta que deram ao convite que lhes foi endereçado para concorrerem à quarta licença de operador movel, por outro temos o líder mundial no fornecimento de equipamentos de telecomunicações a reforçar a sua presença no mercado nacional.

Estamos em presença de um cenário que precisa de uma leitura e compreensão adequadas para encontrar-se o melhor caminho para construção de uma rede moderna de telecomunicações sem a qual não será possível entrarmos na era da economia digital e criação de valor com base em conhecimento e inovação, onde deveremos deixar de ser meros consumidores. O desafio é enorme e complexo, os custos são significativos, podemos estimar que para atingir de 18 milhões utilizadores de Internet em todo país, serão necessários cerca seis mil milhões de USD de investimento nos próximos 4 anos. A Huawei, pelos vistos, já se posicionou como um parceiro tecnológico de longo prazo, falta agora encontrar o modelo que permita atrair o capital necessário para construir o futuro, tendo sempre em conta que esse modelo será encontrado tanto melhor quanto menos nos deixarmos condicionar pelo passado.