Sociólogo defende criação de brigadas comunitárias de alerta sobre Covid-19

Sociólogo defende criação de brigadas comunitárias de alerta sobre Covid-19

O sociólogo considera que as brigadas comunitárias nos bairros serviriam para incentivar a mobilização para o cumprimento das medidas de prevenção decretadas pelas autoridades sanitárias contra o Covid-19. Carlos Conceição diz que apesar de se ter confirmado os dois casos da pandemia do Coronavírus, ainda é notória aglomeração de pessoas em óbitos, festas e outras concetrações, e não descarta a possibilidade de não terem sido acatadas as medidas de prevenção e higienização. Para o interlocutor, este comportamento demostra, em parte, que a mensagem das autoridades não tem passado, sendo necessário, enquanto não há uma propagação em massa, mais sensibilização.

As brigadas de sensibilização comunitária usariam panfletos, megafones, entre outros instrumentos que facilitam a divulgação de mensagem, através de membros das comissões de bairros acompanhados de agentes sanitários. Em seu entender, urge a necessidade de entrada em cena deste tipo de brigada, dentro das próximas 48 horas, enquanto o país está numa fase embrionária de casos positivos. “Esta questão do Coronavírus é muito mais comportamental do que a própria transmissão em si.

Nós estamos muito frágeis, comparativamente a outras Nações que estão a lutar contra o mesmo vírus. Na Itália a propagação está a ser maior porque houve resistência”, disse. Para fundamentar a sua tese, conta que há países em África que estão a trabalhar na sensibilização e os resultados têm sido positivos, apontando a República Democrática do Congo (RDC) como exemplo, pois, volvidas quase três semanas, só tem confirmados três casos.

Resistência e factores culturais

O entrevistado de OPAÍS alerta para comportamentos de resistência, particularmente nas zonas periurbanas e rurais, que podem ser motivados por aspectos culturais ainda predominantes. “Veja que as autoridades proibiram os beijos e abraços, mas as pessoas continuam a dar a mão e a abraçar-se porque é costumeiro para a nossa realidade africana e, nalguns casos, a cultura fala mais alto do que as medidas administrativas”, frisou. Apontou ainda como exemplo à resistência as festas, óbitos e concentração de mais de 50 pessoas que continua a ser prática em diferentes locais do nosso país.

O sociólogo frisou que nesta fase é crucial o papel dos meios de comunicação, em particular os públicos, tendo censurado a programação da Televisão Pública de Angola que, em seu entender, devia dar mais espaço para a informação sobre a pandemia, reduzindo os programas de entretenimento. “Acho que nesta altura era crucial retirar-se toda a programação de entretenimento, porque não faz sentido termos tais programas enquanto falta sensibilização”, opinou. Acrescentou que “actualizar as populações de tempo em tempo é crucial”, pelo que, urge a intervenção do Ministério da Comunicação Social.

Mercados informais e táxis

Apesar de as escolas e igrejas encontrarem-se encerradas, o entrevistado alerta que o lado social não parou na plenitude, uma vez que há grande concentração populacional nos mercados informais e há movimentação em táxis.

Há uma corrida generalizada para a compra de bens de primeira necessidade e, segundo o sociólogo, nesses mercados à céu aberto não se observa o mínimo de cuidados básicos recomendados pelas autoridades sanitárias para a prevenção do surto. Carlos Conceição disse que vai existir comportamento de resistência das pessoas, daí que o papel da Polícia é fundamental para desencorajar tais práticas.