Uma carona do coronavírus

Uma carona do coronavírus

Pois bem, o Covid-19, não deve servir apenas para gritos histéricos ou para a exibição pura de boçalísmo e de incompetência mental que temos visto. Dos do topo aos da base, infelizmente, o que tem sobressaído dava para filmes de terror. Entretanto, pode-se ter aberto uma porta. Se ainda houver laivos de sanidade intelectual nos governos africanos, a pandemia pode ser aproveitada para injectar energia no processo de desenvolvimento, mas é preciso saber que não há desenvolvimento sem disciplina e sem civismo.

Em vez de guerras pessoais, e da busca por um suposto elitismo que se afirma mostrando a posse de bens europeus, ou acesso a certas casas ocidentais, deixando os povos a viver como animais, os Estados africanos têm agora a oportunidade de recomeçar, estando as pessoas em casa. Deve-se aproveitar este tempo para redesenhar os sistemas de saúde e de educação, para refazer a governação empresarial e as noções de mercado, para disciplinar a relação com o trabalho.

Por exemplo: se os mercados agora funcionam até às treze horas, depois do Corona permitir-se-á que voltem a estar abertos até à meia-noite? Se as pessoas agora esperam pela vez numa fila do banco, permitir-se-á que volte a confusão?

Se a Polícia agora tem alguma autoridade, perder-se-á este balanço? Se os governos começam a poupar nos gastos públicos, depois disso voltará a festa irracional? Mas a pandemia mostra que é também hora da transparência e do controlo apertado.

Será que África consegue? porque a tentação do roubo não desaparece. Figuras africanas apelam para que os africanos fujam de uma possível vacina contra o vírus, o que é demonstrativo de duas coisas: que a ignorância reina em todas as classes, e da vergonha de não termos investido numa rede científica que estivesse agora a trabalhar no tema. Estamos absolutamente dependentes, apesar dos shows, das piadas, do folclore, das casas e das contas no estrangeiro dos nossos governantes.