Se pudéssemos parar o tempo…

Se pudéssemos parar o tempo…

Por quarenta e oito horas Angola não teve revelado qualquer novo caso de contaminação pelo novo Coronavírus. Que estes dois dias se multipliquem, que cresçam, sendo sempre iguais. Mas iguais apenas no caso desta doença nova. Para que cada um possa sair a abraçar quem ama, para que os afectos se façam outra vez do toque, da proximidade. Para que os angolanos, e toda a humanidade, voltem a sentir o afago de um cafuné e a liberdade de ir solto ao vento ao encontro do horizonte onde há sempre quem nos espera e de onde há sempre novas partidas. Mas será obrigatório novo elemento na bagagem com que se parte, novo sabor no carinho que se dá e que se recebe, nova alma no beijo. Tudo isto vindo da lição aprendida.

Olhando para o rasto do maldito vírus pelo mundo, há que soltar um forte basta! gritado a plenos pulmões, o seu alvo principal. Mas é preciso gritar com novas atitudes, e viver com mais amor, pelo próximo, por cada um, pela natureza. Não é a demonstração física de afectos que espalha o vírus, é a falta de amor que o faz, porque pode haver um vazio de amor quando se tocam os corpos, quando se partilha objectos. O amor que devemos reaprender agora é aquele que respeita a vida, que a preserva se necessário afastando- se. Digamos que se trata de uma fase de maturidade do amor. As crises, as doenças do corpo e da alma, os dias que passam e os erros servem para isso mesmo, para crescermos, como pessoas, como sociedade, como Estado. Nestes dias de saudades, em que também se semeia no espírito a presença moldada de afastamento, nestes dois dias de tréguas numa guerra que se vence fugindo do toque de mãos de quem se ama para matar o inimigo, aprendamos a multiplica-los ausentando-nos dos outros, de nós, só para mais depressa chegar o reencontro.