Vacinas e misses

Vacinas e misses

Está a correr nas redes sociais, sobretudo em língua francesa, uma grande campanha contra a ideia de se testar vacinas contra o Covid-19 em África. Eu acho este movimento interessante, mas ele levanta outras inquietações. A ideia dos testes em África foi levantada por cientistas franceses, mas não disseram que o fariam exclusivamente neste continente, aliás, no mês passado já se apelava a voluntários no Reino Unido, por exemplo. Por outro lado, para quem é dirigido o protesto? para os cientistas europeus ou para as sociedades africanas, mormente os seus governantes? Ora, se a vacina for testada noutra latitude e funcionar, seja qual for a vacina, francesa, alemã ou chinesa (onde já se está a testar em humanos), o continente africano vai acabar por ser um excelente cliente, ainda que recebendo como oferta das Nações Unidas ou como apoio de um Estado terceiro, como sempre, mas pagaremos sempre. Agora vamos ao que interessa: que tal se houvesse agora uma proposta de vacina de origem africana em busca de voluntários africanos? Não há, que se saiba. Porque as lideranças africanas preferem gastar em tudo o que é parvoíce e não em ciência. Olhemos para os nossos laboratórios, olhemos para os cursos de medicina sem laboratórios e sem hospitais universitários em Angola, por exemplo. E olhemos para a farra em quase todos os países com políticos a disputar dinheiros e a atenção dos estrangeiros, como para eles é mais importante uma página simpática num jornal lá de fora (bem paga) do que pagar um ano de trabalho de um investigador local. E não creio que issová mudar com esta pandemia. Lamentavelmente, por muito que se proteste, as vacinas vão entrar, os africanos farão parte do estudo, ainda que involuntariamente, e lá para Agosto, depois disto tudo, os nossos líderes irão fazer os seus check-up na Europa. E se sobrar dinheiro, venham concursos de misses.