ESTOU TRISTE

ESTOU TRISTE
 Estou triste.
Espero que seja só um mau pressentimento. Oxalá que esteja errado. Soube ontem à noite que amanhã, Sábado e Domingo, vai ser permitida a saída dos concidadãos que ficaram retidos em Luanda, por ocasião da entrada em vigor do Estado de Emergência (EE). Triste porque se permitiu “furar” a cerca sanitária do foco do Covid 19. Pelo que se sabe oficialmente, Luanda é o único foco da doença já que, em todas as províncias, os casos de quarentena deram negativos. Assim sendo, até ao próximo Domingo, o único foco da doença será Luanda.
Quando o foco está limitado, mandam as boas regras de biossegurança que esse foco seja isolado, pelo que ninguém pode sair da “zona suja” para os territórios considerados limpos. Imaginemos, por hipótese, que saiam de Luanda 170 cidadãos, 10 para cada uma das restantes 17 províncias. Estes cidadãos não foram sujeitos a um rastreio que permita saber qual é o seu estado sanitário. Seguem livres e contentes para as suas províncias de origem. Se uma pessoa, em cada dez, estiver infectada teremos 17 novos casos, isto é, um novo caso em cada uma das 17 províncias e passaremos a ter 18 focos da doença no território de Angola. Se cada um destes infectados, em cada província, visitar, cumprimentar, saudar, …, um familiar (e como são as nossas famílias?)
teremos no mínimo, na melhor das hipóteses, mais 17 novos casos. Daí para a frente, vai ser um nosso Deus nos acuda. Ouvi dizer, durante estes últimos dias, que deveríamos aprender com os erros e os bons exemplos de outros países. Pois bem. Assim todos os concidadãos, que amanhã e no Domingo saírem de Luanda, para qualquer ponto do país, devem ficar em quarentena institucional, já que não acredito na quarentena domiciliar, pelos motivos que todos conhecem.
Todas as viaturas, bens e as próprias pessoas devem ser pulverizadas à saída de Luanda. Antes da saída de Luanda devem assinar um termo de responsabilidade onde indiquem para onde vão, rua, bairro, cidade, aldeia, contacto telefônico. Se as viaturas que sairem de Luanda não tiverem sido pulverizadas devem ser pulverizadas a entrada do território da Província. Chegados à capital da Província, todos os cidadãos, sem exceção (já tivemos exemplos) devem ser recolhidos pelo pessoal da Saúde e encaminhados para os centros de quarentena institucional preparados em cada Província.
Poderemos assim cortar a cadeia de transmissão do vírus. Caso contrário, teremos nos próximos quinze dias 18 focos da doença. Depois e a escalada da doença. Tenhamos em mente o erro de Itália quando abriu o cerco no Norte, principal foco da doença. Quando acordaram tinham focos em várias regiões do território italiano, sem meios humanos, materiais gastáveis e equipamentos de suporte vida. Tiveram de chegar ao ponto de terem de escolher quem tratar e quem deixar morrer. Neste ponto, o apoio psicológico ao pessoal médico e para-médico é fundamental.
Assim poderemos minimizar os efeitos desta abertura da “cerca sanitária”. À medida que forem aumentando os casos em Luanda, a circulação de viaturas e pessoas autorizadas, ao entrarem no território de cada Província, devem ser tomadas todas as medidas sanitárias para que as viaturas e pessoas não sejam portadoras do vírus. Chamo a atenção para os Casos de Estudo, sobre a atitude de alguns países frente a esta pandemia: Macau, Coreia do Sul, Brasil, Argentina, Espanha, Bélgica, França, Italia, Espanha, Portugal e EUA. Quais foram as medidas tomadas e qual é a situação actual? As diferenças de actuação de cada país e as consequências actuais e futuras?
Há na Europa sectores da sociedade civil que se movimentam para apresentarem queixas de genocídio contra os dirigentes de alguns países. Quais as consequências sociais e econômicas desta pandemia? O médico que escreveu ao Primeiro Ministro da Inglaterra a chamar à atenção para falta de meios para o pessoal da Saúde, morreu ontem em Londres infectado pelo Covid 19.
O que se conhece hoje sobre o vírus? Que protocolos de tratamento seguir? São perguntas às quais não temos muitas respostas. Há equipas a trabalhar para melhor se conhecer este vírus e como e quando actuar. São mais as dúvidas do que as certezas.
Aqui fica a minha contribuição.
Texto da autoria de José Manuel Moras Cordeiro,
Médico Veterinário,
Professor da Faculdade de Medicina
Veterinária da UJES-Huambo