Às 10 horas da manhã em Los Angeles, 1 hora da tarde em Nova Iorque, 6 horas da tarde em Inglaterra e Angola, e 7 horas da noite em Itália, celebrando o Domingo de Páscoa e promovendo união à distância, Andrea Bocelli projectou a sua voz do Duomo de Milão para o resto do universo, interpretando cinco majestosas canções que retratam em pleno o espírito que se vive nesta data, atingindo perto de 2 milhões de visualizações em directo.
Por: Zuleide de Carvalho
Domingo de Páscoa, 12 de Abril de 2020. Catedral de Milão, Milão, Itália. Horário, 7h00 da noite. Artista: Andrea Bocelli.
O majestoso Concerto de Páscoa anunciado com cinco dias de antecedência decorreu numa Catedral vazia e, pela primeira vez na história (provavelmente), ainda bem que assim foi. É sinal que as pessoas ficaram em casa pois, nem na Praça da Catedral de Milão se viu vivalma, a não ser Andrea Bocelli (mas, já lá vamos).
“#MusicForHope #StayHome #WithMe”, por: Andrea Bocelli
Respondendo ao apelo musical do Maestro, 1.921.976 almas seguiram o concerto de Bocelli no YouTube, inaugurado com a intemporal e celestial harmonia “Panis Angelicus”, lavando a todos corpo, alma e espírito.
De seguida, a sua potente voz de Tenor ecoou e ribombou entoando “Ave Maria” de Bach pela Igreja vazia que, de outro modo, não poderia acolher tamanha companhia. Presentes em espírito, sem abandonar a câmara da Catedral, nem a segurança das suas casas, os admiradores do seu génio acompanharam as notas musicais e letra de “Sancta Maria”, de Pietro Mascagni, retratada por Andrea, que deu, uma vez mais, o extremo de si na performance. Do cimo do altar do Duomo, onde protagonizou o concerto, acompanhado pelo pianista da Igreja, Emanuele Vianelli, “Domine Deus” ganhou vida, renasceu das cordas vocais do mestre, que, com este momento musical ímpar, quis curar a dor do mundo.
E, de repente, vindos do silêncio acordado pelos adormecidos ecos, ouviam-se somente passos na Igreja inabitada. Seguiu-se a imagem inesperada, que mostrou um Andrea deambulante, em linha recta – traçada no chão para guiar os seus passos cegos que tudo vêem – do altar do Duomo de Milão até à porta de entrada, que atravessou e, mais à frente, estancou, exactamente, onde havia as marcas para os seus sábios pés, perante a deserta Praça da Catedral e brilhou, afinal, para além da plateia Divina, havia aproximadamente 2 milhões de pessoas a assisiti-lo em casa. Do microfone, num embalo de renascida esperança emanou “Amazing Grace”, culminando em “I was blind, but now I see!”, sendo certo que o universo, se não viu, sentiu a magnitude e longevidade inquebrantável da “#MúsicaParaEsperança”, de Andrea Bocelli.
Andrea Bocelli: Um bálsamo, uma dádiva
Andrea Bocelli, o Tenor mais enaltecido dos tempos modernos, escolhido a dedo por Pavarotti, o último Tenor, e seu conterrâneo italiano, que o convidou para abrir um concerto mal o ouviu pela primeira vez, há mais de três décadas, (substituindo de imediato o artista anteriormente convidado), quis, nesta Páscoa, partilhar com o planeta Terra uma importante e ansiada mensagem em tempos difíceis de perda, incerteza e temor.
Para Andrea, “no dia em que celebramos a confiança numa vida que triunfa, sinto-me honrado e feliz em responder ‘Sì’ ao convite feito pela cidade e Duomo de Milão. Acredito na força de se rezar juntos; Acredito na Páscoa Cristã, um símbolo universal de renascimento de que todos – quer sejam crentes ou não – verdadeiramente precisam neste momento. Graças à música, transmitida em directo, reunindo milhões de mãos juntas por todo o mundo, iremos abraçar o coração pulsante ferido desta Terra, esta maravilhosa força internacional que é uma razão de orgulho Italiano. A generosa, corajosa, proactiva cidade de Milão e Itália inteira será novamente, e muito em breve, um modelo vencedor, motor do renascimento por que todos esperamos. Será uma alegria testemunhar isso, no Duomo, durante a celebração da Páscoa que evoca o mistério do nascimento e renascimento.”
Nota:
*Que Andrea Bocelli, Il Maestro, como é tratado pela sua equipa, é o mais aclamado Tenor das últimas três décadas, já todos sabíamos. Fala-se aqui por experiência própria, fruto de uma viagem até ao Brasil, em Setembro de 2018, somente para assistir ao seu concerto ao vivo. Anteontem, sucedeu o inverso, ele veio até mim e as demais 1.921.975 pessoas que o assistiram em directo no YouTube, a partir da Catedral de Milão, completamente vazia, exceptuando-se a imensidão da voz e alma de Andrea Bocelli, a harmonia do pianista Emanuele Vianelli e, obviamente, a presença de Deus, sentida através de telemóveis, iPads e TVs, por todos os crentes espalhados pelo mundo, em suas casas, neste Domingo de Páscoa. Conforme se lê algures, “Ouvir Andrea Bocelli cantar é como ouvir a voz de Deus (se Deus cantasse).”