E se não existissem jornalistas…

E se não existissem jornalistas…

Os políticos angolanos vivem dilemas terríveis. Por um lado, precisam de mandar lá para fora a mensagem de que são democratas e que respeitam e protegem a liberdade de expressão e a pluralidade informativa. Que apoiam e promovem o jornalismo livre. Mas, por outro, como vemos, as entrevistas são quase exclusivamente dadas a órgãos estrangeiros (para passar a tal imagem), os cuidados de imagem são contratados lá fora, bem pagos, a publicidade institucional é quase exclusiva para os órgãos públicos e os jornalistas nacionais são tratados como meros fardos. Não é normal numa democracia como a que queremos parecer que, com Luandas leaks, pandemias, autarquias em risco, etc., o Presidente da República não se desdobre em entrevistas para falar com o país. Os ministros seguem o passo, a ministra da Saúde deu agora uma entrevistas à EuroNews, que parece ser já “nosso canal caseiro”, até porque se trata de um canal que pertence a um povo que paga os salários dos políticos angolanos, daí a deferência que se vai notando. Para os nacionais, contentem- se com as conferências de imprensa e quando são permitidas perguntas. Com estes sinais políticos, chegamos a ouvir o subcomissário Waldemar José a dizer que por causa do estado de emergência, jornalista só circularia com passe do serviço, uma declaração e a prova da escala de trabalho. Na Huíla tivemos jornalistas impedidos de irem trabalhar porque o carro que os transportava não tinha livre trânsito. E agora, em Benguela o director da Saúde assinou dois documentos do Grupo Técnico local para a Saúde Pública a tratar os jornalistas e órgãos de comunicação social, incluindo OPAÍS, como sendo mentirosos, gente sem escrúpulos, indecorosos, etc.. Mas não teve o necessário para dizer que o governador rui Falcão não falou de dois casos suspeitos de Covid-19, um em Benguela. Isto começa a parecer politicamente orientado, o que é muito grave. Mas quem assina os documentos de Benguela, ou quem os dita que se olhe primeiro ao espelho e ache os adjectivos. Coisas indecorosas e sem escrúpulos que se fazem em Angola não são feitas por jornalistas, seguramente. Mas, sim, todos sabemos, para certas pessoas o paraíso seria um mundo sem jornalistas.