“A minha maior conquista no teatro é a minha formação

“A minha maior conquista no teatro é a minha formação

O encenador e director de teatro tony Frampénio é escritor de peças teatrais há 20 anos. A sua maior conquista, nesta área, disse ser a sua formação superior, feita entre os anos 2015 e 2018, no instituto Superior de Artes (iSArt), em luanda, onde posteriormente passou a leccionar a disciplina de história de teatro, Actuação e Estética

Por:Antónia Gonçalo

Os seus primeiros passos no teatro foram dados em 1992, com apenas 12 anos de idade, no Seminário Maior Arquidecesano de Luanda “Sagrado Coração de Jesus”, em que interpretou o primeiro personagem “Menino Jesus”, isso, em vésperas de natal. “Foi lá que tive o primeiro contacto com o teatro e nem sequer tinha noção da finalidade daquela brincadeira. Não me lembro exactamente como fui lá parar, mas era como se fosse a minha segunda casa. Também tinha um primo que vivia aí”, contou. Frampénio começou a ver o teatro de forma mais séria em 1994, enquanto estudava na escola Ngola Kiluanje, em Luanda. Na altura, a extinta MONUA, uma ONG norte-americana, que fazia trabalhos sociais no país, solicitou jovens para a exercitação do teatro comunitário.

Com este trabalho, em que inclusive foi remunerado, o encenador passou a entender melhor a relevância e o papel social do teatro. Nestes 20 anos de trabalho , apesar do pouco que se ganha, conforme disse, tem sobrevivido desta arte através da realização de diversas actividades ligadas a ela. No ano 2000, Frampénio deixou de contracenar, depois de ter assumido a liderança do Enigma Teatro. Mas, apesar do facto, tem actuado em vários palcos. “Fi-lo durante a minha formação no ISART e em projectos como o ‘Cultura Para Todos’, mas, nunca com o meu grupo. Participei também, recentemente, em alguns filmes e comerciais. No meu grupo, escrevo e enceno as obras. Essa é a minha paixão; dramaturgia e direcção de actores”, aferiu.

Maiores conquistas

Nas vestes de director e encenador do Enigma Teatro, referiu não ter sido fácil, na altura, o trabalho, isso, devido aos conflitos tidos com membros do grupo, composto maioritariamente por jovens. Tais situações culminaram com a divisão do conjunto, em três cisões. “Comecei muito jovem, a liderar também outros jovens e não foi tarefa fácil. Perdi bons actores que formei durante 15 anos, tive de formar outros artistas e explicar-lhes a ideologia do Enigma, a minha filosofia de trabalho e o significado da arte”, explicou, tendo ainda dito que o referido processo exigiu tempo e resignação, para os actores percebessem que esta arte é uma forma de vida, uma escola, religião e espírito, para poderem estar firmes e não desistirem com o passar do tempo.

As suas grandes conquistas no teatro, além da formação, estão relacionadas com o grupo que digere, através de vários prémios, como o Prémio Cidade de Luanda, em 2010, o Prémio Nacional de Cultura e Artes, em 2014, o Prémio Angola Independente, em 2015, entre outros. As peças teatrais “A grande questão” e “A raiva” estreiada há 10 anos, apesar do tempo, continuam actuais, pelos seus conteúdos que têm atraído o público no país. Os respectivos DVD’s, inclusive da obra “Na corda bamba” são também um dos orgulhos do conjunto, por serem conhecidas e aplaudidas. Já a obra “Casados e cansados”, um dos seus mais recentes trabalhos, não fi ca atrás, uma vez que tem sido solicitada em vários festivais internacionais. “Mas, acima de tudo, a grande conquista do grupo é a família que construímos e o papel social que temos desempenhado através da arte. A nossa mensagem tem salvado vidas”, constatou

Encenação

Quanto ao processo de criação das peças teatrais, disse deverse ao seu dom, aliado à formação, que lhe permitem encenar através dos problemas sócio- económicos do país, obras que exaltam o amor e que apontavam o prazer da ludicidade, e de outras realidades. Por isso, constatou que o seu contributo no desenvolvimento do teatro no país é feito através da sua docência, que lhe permite transmitir o seu conhecimento empilhado há 20 anos à nova geração e aos membros do grupo. “Tenho também alguns livros na forja, mas, como deve saber, o processo de edição não tem sido fácil. Mas, quando publicar, acredito que quem os ler será mais um membro na luta da revolução do teatro”, perspectivou. O encenador que não se revê a fazer outro labor disse que se pautaria na questão “mataria” muitos sonhos, principalmente o seu, em ver um teatro angolano dignifi cado como deve ser. “Um peixe não vive muito tempo fora da água. Não obstante, as difi culdades de vária ordem no capítulo artístico no país, nós temos criado os nossos trabalhos, de acordo a realidade”, enfatizou.

Dramaturgos

Sobre os dramaturgos que muito admira, assim como os respectivos trabalhos, disse que dos clássicos estima o Sófocles, autor grego, pelas obras intemporais. No teatro moderno europeu, aprecia o labor de Breacht, autor alemão, por notar a revolução na maneira de abordar o teatro. Já no nosso país, disse ser fã confesso de José Mena Abrantes, pelo seu currículo artístico, bem como o facto de as suas obras histórico-fantasiosas ajudarem-lhe a compreender a cultura do povo, e, também, por ser o primeiro a deixar escrito o legado do teatro angolano.