Covid-19 força muçulmanos a cumprir Ramadan distantes das mesquitas

Covid-19 força muçulmanos a cumprir Ramadan distantes das mesquitas

As mesquitas estão encerradas numa época em que o calendário islâmico assinala ser o nono mês: o período em que a maioria dos muçulmanos são chamados a cumprir um período de jejum, um dos cinco pilares do Islão

Por:Paulo Sérgio

São mais de 100 mesquitas em Angola e milhares espalhadas pelos países que se encontram nessa situação, antes mesmo do início do mês do Ramadan, em consequência da Covid-19. Um cenário até ao ano passado inimaginável para os que professam esta religião, residentes nos países actualmente em estado de emergência. Ahmad Nlando vive a sua primeira experiência de jejuar no mês de Ramadan sem poder estar e viver a fraternidade a que está habituado. Porém, esforçase para cumprir rigorosamente o ritual que teve início no dia 24 de Abril e terminará no dia 23 de Maio. No calendário islâmico, trata-se do ano 1441 (no calendário gregoriano é 2020). Acorda às 4h10 para tratar da higiene pessoal e desfrutar do Suhur (refeição leve) até ao início da oração da alvorada que está a ser realizada às 4h50 em Angola.

A hora coincide com aquela em que todos os muçulmanos a nível do mundo, que estão a participar nesse evento comunitário, fazem a primeira oração do dia. “Em todas as partes do mundo, há sempre o cuidado de actualização do horário segundo o fuso local”, frisou. A segunda oração acontece ao meio dia (12h05), a terceira oração ao meio da tarde (15h27), a quarta é a oração do pôr-do-sol (18h10) e a quinta e última é a oração da noite (19h10). Há 15 anos que ele cumpre o ritual. Sobre a impossibilidade de ir à mesquita que frequenta, em cumprimento das medidas de isolamento social e físico, disse não constituir problema. Tem feito as orações e o jejum em casa, ou seja, tudo o que se pode fazer numa mesquita em relação ao jejum e oração está a observar em casa com a família, sem qualquer sobressalto.

Ahmad Nlando disse que o Jejum Islâmico tem início no despontar da alvorada e termina no ocaso, ao pôr-do-sol. “O Islão é um sistema de vida que se adapta à qualquer circunstância e nós, muçulmanos, não obstante confinados em nossas casas, estamos observando este período sagrado com normalidade”, frisou. Acrescentando de seguida: “Eu, particularmente, sinto-me bem, embora estaria melhor se pudesse partilhar o momento com mais irmãos de fé”. Garantiu que as suas rezas não têm importunado a vizinhança, pelo facto de que essas práticas no islão são feitas em silêncio ou em voz audível moderada. “Em relação a isso, nunca tivemos problemas com pessoa alguma”, frisou.

O quarto pilar do islão O Sheikh Altino Miguel Umar, líder da Comunidade Islâmica de Angola (COIA), declarou, a OPAÍS, que o jejum do mês de Ramadan constitui o quarto pilar do islão, e que é de cumprimento obrigatório. “A par do Hajj (peregrinação) são uma das maiores manifestações religiosas dos muçulmanos”, frisou. Por esta razão, antes mesmo do seu início, a direcção central da COIA, em Luanda, orientou a realização das orações e jejum nos domicílios, neste período, a todos os representantes e delegados a nível das províncias.

“Por causa da Covid-19 e em cumprimento do Decreto Presidencial que faz referência ao estado de emergência, a COIA fez sair uma circular orientando a nível nacional a interdição provisória dos cultos e orações em agrupamento, assim como o encerramento provisório das mesquitas”, frisou. Sheikh Altino Umar disse que as celebrações do jejum e orações durante o mês de Ramadan são mesmo locais, de forma individual ou em família. O estado de emergência está a afectar a realização de todas as actividades religiosas normais, como orações, cultos, palestras, aulas, colheitas de dízimos, entre outros. O que o líder religioso defende como sendo passíveis de serem enquadrados, face a esta realidade, e de gerir de forma pacífica e ordeira.

“Fiéis prevenidos e em permanente solidariedade”

Sheikh Altino Umar garante que os membros da comunidade estão prevenidos contra a pandemia da Covid-19, uma vez que os métodos de prevenção fazem parte das suas actividades diárias. “A vida religiosa diária do muçulmano é caracterizada pela higiene de prevenção desta pandemia, considerando que ele lava as mãos no mínimo cinco vezes ao dia para rezar, as mulheres usam o hijab e nikab (mascaras) e muitas usam luvas”, frisou. Por outro lado, disse que se juntaram aos esforços do Executivo na ajuda às comunidades carentes. Através das suas representações provinciais fizeram doações não só às populações carenciadas, como, também, a alguns governos provinciais e administrações municipais.

A título de exemplo, disse que tal se registou no Moxico, Huíla, Luanda, Bengo e Malange. “Estamos a preparar as condições de logística para as outras províncias”, garantiu. No que concerne a doações, disse que nesta fase são pontuais e paliativas. Sempre que surge uma necessidade, faz-se apelos dirigidos e direccionados aos fiéis que têm meios e possibilidades. Reconheceu que o facto de em Angola a maior parte dos fiéis, como comerciantes, terem os seus estabelecimentos encerrados poderá afectar nas contribuições para a filantropia e obrigações da igreja. Sheikh Altino diz que legalização do islão decorre a bom ritmo Licenciado em Shariah (direito Islâmico), pela Universidade Islâmica de Madina Munawarat, na Arábia Saudita, Sheikh Altino Umar garante que “o processo de legalização do islão está em bom ritmo e acelerado. Estamos a cumprir a Lei 12/19 de 14 de Maio”.

Declarou que a comunidade islâmica em Angola, enquanto uma organização, está cada vez mais organizada e responsável. Segundo conta, os episódios de encerramento e destruição de mesquitas terminaram e espera que nunca mais voltem. “No passado foram demolidas três mesquitas e encerradas cerca de 40”, frisou o cidadão angolano nascido em 1979 no município do Cazenga. Afirmou que têm suplicado e rogado à Allah (Deus, para os cristãos) em suas orações diárias, principalmente neste período de jejum do mês de Ramadan e sacrifícios, que a pandemia termine o mais rápido possível e que não faça mais nenhuma vítima mortal em Angola e no mundo.

Sheikh Altino diz que legalização do islão decorre a bom ritmo

Licenciado em Shariah (direito Islâmico), pela Universidade Islâmica de Madina Munawarat, na Arábia Saudita, Sheikh Altino Umar garante que “o processo de legalização do islão está em bom ritmo e acelerado. Estamos a cumprir a Lei 12/19 de 14 de Maio”. Declarou que a comunidade islâmica em Angola, enquanto uma organização, está cada vez mais organizada e responsável. Segundo conta, os episódios de encerramento e destruição de mesquitas terminaram e espera que nunca mais voltem. “No passado foram demolidas três mesquitas e encerradas cerca de 40”, frisou o cidadão angolano nascido em 1979 no município do Cazenga. Afirmou que têm suplicado e rogado à Allah (Deus, para os cristãos) em suas orações diárias, principalmente neste período de jejum do mês de Ramadan e sacrifícios, que a pandemia termine o mais rápido possível e que não faça mais nenhuma vítima mortal em Angola e no mundo.