Embaixador da Bélgica participa na distribuição gratuita de sabão e garante apoio

Embaixador da Bélgica participa na distribuição gratuita de sabão e garante apoio

Na agenda do diplomata constava apenas a visita à fábrica de produção artesanal de sabão, mas diz ter gostado do envolvimento dos jovens que, com base em meios reciclados, têm contribuído para que milhares de famílias higienizem as mãos e diminuam a disseminação da Covid-19.

Por isso, Josef Smets juntou-se à caravana de 13 jovens que na manhã de Quarta-feira rumou ao município de Icolo e Bengo ao encontro de mil famílias do Bairro da Lalama, na Quiminha.

Foram cerca de 60 Quilómetros de Luanda a sede municipal de Catete e outros mais de 80 Quilómetros de terra batida, pedras e buracos para se chegar a Lalama, distância percorrida em mais de duas horas.

Todavia, o embaixador Belga não desistiu, pois queria ver quem eram, de facto, os destinatários finais. Chegado ao local, não cruzou os braços e envolveuse na campanha de distribuição de sabão à população constituída maioritariamente por camponeses, com os quais interagiu.

Antes, na fábrica, Josef Smets disse ser a favor da filosofia da reciclagem, particularmente do óleo usado de cozinha, para o seu aproveitamento em sabão, que, para o diplomata, traduz-se numa visão de economia circular.

Nesta fase, em que o mundo se depara com o desafio do combate à Covid-19, o embaixador da Bélgica disse ser salutar que haja pessoas a oferecer sabão às famílias que não têm recursos para a aquisição de meios de biossegurança.

“É bom descobrir pessoas que criam projectos sustentáveis, próximas à população e criam empregos. Nós ficamos impressionados, pelo facto de o Governo lançar projectos e não depender apenas do sector petrolífero”, disse.

No fim da sua visita, garantiu apoio para que a produção de sabão para pessoas necessitadas não pare. “Este projecto merece o nosso apoio e a nossa solidariedade, porque não falamos de prestígio, mas sim de projectos concretos e reais”, finalizou.

Distantes das zonas comerciais e sem transportes

Os beneficiários de Lalama têm dificuldades para chegar aos centros comerciais, onde possam adquirir o sabão e outros meios de primeira necessidade. A distância, agravada pelas condições em que se encontra a estrada os que liga a sede municipal de Catete, por exemplo.

Apesar da distância, os residentes de Lalama mostraram ter conhecimento da gravidade da Covid-19, bem como da necessidade do uso dos meios de biossegurança para travar a sua propagação.

Por lá, a máscara de protecção facial quase não existe, mas sabem eles que a lavagem das mãos é um dos mecanismos essenciais recomendados nesta fase.

O território da Lalama é banhado pelo rio Bengo e a água para a higienização das mãos parece não constituir problema, embora a distância, a escassez de transportes e a falta de recursos financeiros para a aquisição de detergentes, como o sabão, os preocupe.

“Para se chegar a Catete ou na praça do Quilómetro 30, gastamos 1000 Kz, o mesmo valor que nos é cobrado no regresso. Não temos dinheiro para isso”, queixou- se a anciã de 76 anos Maria de Lemos.

Maria de Lemos espera, por isso, que esta iniciativa não seja a única na sua circunscrição, reforçando que a população local não tem condições para adquirir os produtos de higiene recomendados nesta fase da pandemia da Covid-19. O mesmo testemunho foi dado por Rosa Vieira, que acrescentou que a oferta do sabão vai ajudar a manter as mãos limpas e a roupa da sua família.

40 mil barras de sabão distribuídas em 60 dias

A campanha de distribuição gratuita de sabão começou no mês de Março, tendo sido já distribuídas 40 mil barras a alguns agregados dos municípios de Belas, Talatona, Viana, Cacuaco, Quiçama e Icolo e Bengo.

Até ao momento, a campanha tem-se limitado na produção de mil barras diárias, feitas manualmente por três técnicos, cuja meta é atingir as 70 mil barras numa primeira fase, para beneficiar igual número de famílias carenciadas. A iniciativa da Sturtap Ambi- Reciclo tem uma dupla função, já que a nível ambiental o óleo que está a ser usado se desperdiçado pode bloquear a drenagem das águas, mas os jovens conseguem reciclá-lo e dar-lhe uma outra utilidade social.

Recorde-se que, a nível institucional, a Presidência da República e o Ministério da Indústria e Comércio se juntaram ao projecto. Um grande impute veio da empresa angolana de produção de cervejas Cuca, que entregou toneladas de soda cáustica que permitiu produzir mais de 10 mil barras de sabão. Um gesto não menos importante veio de profissionais de várias modalidades desportivas, com realce para os de futebol e basquetebol das selecções nacionais, que se predispuseram a leiloar os seus uniformes para a arrecadação de fundos.

Entretanto, o êxito da campanha continua a depender da contribuição da sociedade, com a cedência de óleo usado de cozinha e soda cáustica, em qualquer quantidade.