Camponeses queixam-se de fome depois de inundação das lavras em Lalama

Camponeses queixam-se de fome depois de inundação das lavras em Lalama

Angelino de Castro, coordenador da sede de Lalama, disse a OPAÍS que com as restrições de circulação impostas pela Covid-19 e a carência de transporte para se chegar aos outros pontos do município agudizou-se ainda mais a fome entre a população que tem o campo como a única fonte de sustento.

O responsável frisou que mesmo na sua área de jurisdição, que conta com mais de 200 famílias, com vários agregados, ninguém neste momento está livre da fome, acrescentando que até ao momento o rio e as lagoas continuam cheios.

“A inundação assolou todas as lavras, incluindo as minhas, que já tinham viveiros de tomate e beringelas e neste momento não temos como recuperá-las”, queixou-se Angelino de Castro.

Este coordenador, que nasceu há 65 anos em Lalama, no Bengo, disse que da destruição provocada pela fúria das águas quase não se aproveita nada, sublinhando que com a semente cada vez mais cara no mercado aumenta a preocupação dos camponeses.

A comunidade da Lalama está dividida em quatro bairros, sendo que os outros três estão constituídos pelo Passa Vento, 11 Novo e o 11 Antigo, cujos camponeses se queixam também de fome provocada por inundações.

Mamão e banana fervida para enganar a fome

A fome afectou também a residência de Maria de Lemos, de 76 anos, que lamenta a distância até ao mercado do Quilómetro 30, em Viana, que agora são obrigados a percorrer para comprar alimentos, sempre que conseguem algum dinheiro.

Explicou que a dieta se tem restringido em mamão e banana verde (fervida com sal) e acompanhada de dendém de pequenas plantações feitas ao redor das casas.

Na lavra de dona Maria foram destruídas plantações de batata-doce, mandioca e banana, para além de mamão, que servia também para comercializar.

Nesta fase da Covid-19, a esperança de Maria e de outros camponeses é que sejam contemplados com kits de cestas básicas para diminuir as dificuldades que têm passado.

“Há garantias e estamos a aguardar”

O coordenador Angelino de Castro disse que recentemente começaram a fazer a numeração de todas as famílias, a começar pelos idosos, para beneficiarem de um eventual apoio a ser dado pela administração local. “Há uma garantia para, dentro em breve, nos darem um apoio. Estamos a aguardar”, disse o responsável.

Os camponeses solicitam também a construção de mais infra-estruturas escolares, uma vez que em Lalama apenas existe uma, situada no Passa Vento, sendo que as demais crianças, como as pertencentes à sede percorrem diariamente três quilómetros para terem aulas.

A melhoria das infraestruturas rodoviárias também faz parte do clamor destes habitantes, pois a distância que separa Lalama de Catete é coberta por uma estrada toda de terra batida, com pedras e buracos, o que dificulta a circulação de pessoas e bens.