Dois supostos cúmplices na fuga de Carlos Ghosn foram presos nos EUA

Dois supostos cúmplices na fuga de Carlos Ghosn foram presos nos EUA

Autoridades dos Estados Unidos prenderam dois homens suspeitos de ajudar o ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, a fugir do Japão, em Dezembro, escondendo-o numa caixa semelhante as usadas para transportar equipamentos musicais.

Michael Taylor, ex-membro das forças especiais americanas que se tornou um segurança particular, e o seu filho Peter Taylor, ambos com mandado de prisão expedido pelo Japão, vão se apresentar por vídeo-conferência diante de um juiz federal de Massachusetts.

Apresentam “grande risco de fuga” e devem permanecer detidos até ao pedido de extradição do Japão, estimaram os procuradores federais nos documentos judiciais.

Peter Taylor foi preso em Boston, quando se preparava para partir para o Líbano, onde o ex-presidente da holding Renault-Nissan se refugiou e que não possui tratado de extradição com o Japão. Pai e filho foram presos, nesta Quarta-feira, em Harvard, Massachusetts, segundo uma autoridade do Departamento de Justiça. Peter Taylor estava a preparar-se para ir para o Líbano, onde Ghosn se refugiou.

Os Estados Unidos e o Japão têm um tratado de extradição, mas o Líbano não conta com nenhum acordo com o país asiático, que ainda não emitiu um pedido, mas tem 45 dias para fazer isso.

Os dois homens, assim como o libanês George-Antoine Zayek, são acusados pelo Japão de terem ajudado o empresário a escapar da justiça japonesa em 29 de Dezembro.

O advogado de defesa de Taylor, Paul Kelly, afirmou que o caso “não foi tão directo quanto parece” e que havia “outros” processos judiciais num país que não era o Japão nem os Estados Unidos, sem dar mais detalhes.

Espera-se uma audiência para os próximos dias ou semanas.

“O status quo, por enquanto, será a prisão” de ambos, informou o juiz Donald Cabell.

Entre as acusações de peculato financeiro, Ghosn foi libertado sob fiança e cumpria prisão domiciliar.

Entre Julho e Dezembro de 2019, Peter Taylor fez várias viagens ao Japão e encontrou Ghosn pelo menos sete vezes, dizem os promotores. Segundo os promotores, os Taylors e o libanês George-Antoine Zayek ajudaram Ghosn a se esconder dentro de uma grande caixa semelhante às usadas para transportar equipamentos musicais, que eles carregaram para um jacto particular.

O controlo de bagagem não era obrigatório naquele momento para esse tipo de aeronave.

Fuga “descarada” Ghosn, que liderou a Nissan por quase duas décadas, antes de sua prisão em 2018, estava sob fiança aguardando julgamento por supostos crimes financeiros quando escapou ousadamente do Japão.

As caixas que Taylor e Zayek, supostamente, usaram para transportar discretamente Ghosn na sua fuga ao estilo “Houdini” foram encontradas num quarto de hotel.

“Não há imagens de Ghosn saindo do quarto 4609”, diz a defesa, apresentando evidências de câmaras de segurança.

“Ghosn estava escondido numa das duas grandes caixas pretas carregadas por Michael Taylor e Zayek”, observou a acusação.

Os dois homens embarcaram num jacto particular com as caixas e partiram para a Turquia, segundo documentos do tribunal. “Dois dias depois, em 31 de Dezembro de 2019, Ghosn anunciou publicamente que estava no Líbano”, acrescentaram os procuradores.

As autoridades japonesas observaram no início deste ano que não há evidências de que Ghosn tenha deixado o país.

“A conspiração para remover Ghosn do Japão foi um dos actos de fuga mais flagrantes e bem orquestrados da história recente, envolvendo um número estonteante de encontros em hotéis, viagens de comboio rápido, personagens falsos e o aluguer de um avião particular”, destacaram os procuradores. Em Fevereiro, a Nissan entrou com uma acção civil para reivindicar cerca de 90 milhões de dólares de Ghosn pelo que chamou de “anos de má conduta e actividade fraudulenta”.