Sector têxtil de confecção pretende produzir 10 milhões de máscaras faciais artesanais

Sector têxtil de confecção pretende produzir 10 milhões de máscaras faciais artesanais

Uma série de estilistas, costureiros e fábricas do sector têxtil de confecção no país, afectos à Associação da Indústria Têxtil de Confecções de Angola (AITECA), estão desde Março transacto focados na produção de máscaras faciais de tecido reutilizáveis, para o uso na luta contra a disseminação do novo Coronavírus que abala o mundo, já que as máscaras cirúrgicas são usadas em apenas duas horas.

Desde o arranque do projecto, a classe já confeccionou cerca de 100 mil peças, cujo escoamento é feito por vários clientes individuais e colectivos, como empresas e estabelecimentos comerciais, entre eles o supermercado Kero e o Candando, que comercializam nos seus estabelecimentos.

O objectivo deste agregado é de passar a produzir 10 milhões de máscaras durante um mês, isso, quando o pedido de financiamento apresentado ao Executivo naquele mês for efectivado, para assim importarem equipamentos e materiais, que possibilitarão à execução em grande escala, e, consequentemente, atender o mercado nacional, uma vez que os cidadãos necessitam dela diariamente, para prevenir-se contra o novo Coronavírus.

Em entrevista exclusiva a OPAÍS, Daniel Pires, membro desta associação que funciona desde 2017, disse que a iniciativa surgiu em Março, antes mesmo de ser decretado o estado de emergência, onde constataram a escassez de máscaras cirúrgicas no mercado, bem como a subida súbita dos preços.

O também presidente do Fórum da Indústria Têxtil e de Confecção de Angola disse que a intenção foi de apresentar ao Governo o interesse da classe, de evitar a sua importação e apostar na produção local. Realçou que o funcionamento das fábricas de produção têxtil no país é necessário, no momento, porque seria o potencial fornecedor de materiais, o tecido, que ajudaria a alavancar o sector no país.

“O Executivo vai fazer o input, para a manutenção do sector, de modo a dar respostas ao mercado nacional com credibilidade e eficiência durante a vigência da pandemia no país. Queremos com isso apostar na produção local e evitar a importação. E, com a prorrogação do estado de emergência, mesmo depois da sua cessação, o uso dela continuará a ser de carácter obrigatório, observou.

Confecção das peças

As máscaras são feitas com duplo tecido pelas fábricas, estilistas e costureiros, como à sarja de 200 gramas, conforme o recomendado pela Organização Mundial da Saúde e orientado pelo Instituto Nacional da Saúde. Quanto ao material utilizado, no momento recorreram ao stock existente nos seus atelieres, constituído com vários tipos de tecidos, ideal para o projecto.

Os profissionais nas várias províncias do país, como Luanda, Benguela, Cuanza-Sul, Malanje e no Bengo, conforme disse, têm trabalhado a partir dos seus espaços, para acudir as solicitações locais. Além dos associados, outros “players” juntaram- se à causa, com o intuito de apoiar e rentabilizar nesta fase de confinamento social.

Capacidade de produção

De acordo com Daniel Pires, algumas fábricas chegam mesmo a produzir mais de 10 mil máscaras por dia, enquanto os estilistas e costureiros mil a 20 peças. Por essa e outras razões, disse que o sector no momento está a ser fundamental na produção de equipamentos de biossegurança, para o combate à pandemia, uma vez que envolve criadores de todo o país.

Conferiu ainda que, pelo trabalho em massa desenvolvido, depois da pandemia, a recepção dos mesmos, desde as instâncias empresariais como governamentais saberão que podem contar com o sector têxtil de confecção não só em momentos de crise.

“Por isso, estamos a acompanhar o processo de cada um. E, conforme a sua capacidade de produção, independentemente do acabamento industrial, todos estão unidos na produção, desde os renomados aos novos talentos. O importante é o facto de estarmos agora a ser úteis no combate à doença”, atestou.

Os produtores

A estilista Lucrécia Moreira, proprietária da fábrica LMM-Criações e Confecções Lda, envolvida no ramo há 30 anos, produz entre 500 e 600 máscaras por dia, comercializadas a partir de 600 Kwanzas. Reiterou que devido à urgência do assunto, relacionado com a pandemia, a classe solicitou apoio ao Governo, para disponibilização de financiamentos, que servirão para importação de materiais.

“Cada empresa individual ou colectiva está a trabalhar de forma independente, porque estão em condições de fazê-lo. Por isso, aguardamos pelo apoio do Governo ao sector, que nos permitirá produzir 10 milhões do utensílio mensal”, augurou.

Lucrécia, que na AITECA representa as mulheres do sector, disse que estão ainda agregadas a Federação das Mulheres Empreendedoras de Angola (FMEA) que funciona há 30 anos, avançou que o labor e a venda por parte da classe está a ser feita com êxitos, mas pretendem também efectuar trabalhos em grande escala, com as instituições governamentais, que dependerá do apoio solicitado.

Empregabilidade

A empreendedora disse que tem trabalhado com uma equipa composta por cinco funcionários, para a produção do utensílio. Referiu que devido à crise económica que se instalou no país há alguns anos, assim como outras fábricas de confecção no sector, viu-se obrigada a reduzir o número de funcionários. Por isso, acredita que com o apoio solicitado poderão fomentar a empregabilidade no país.

Avançou que as mulheres associadas FMEA, (composta por várias áreas, além da de confecção têxtil), que anteriormente exerciam diversos trabalhos, como confecção de batas e roupas usadas no carnaval, encontram-se “paradas”, por falta de trabalho e de apoio. “Temos lutado há muito tempo, quanto à questão de financiamento, mas agora com a necessidade das máscaras é uma óptima oportunidade para também estas mulheres beneficiarem deste valor, que vai ser emprestado para a aquisição de equipamentos e matéria-prima”, aferiu.

Avançou que o momento, apesar de constrangedor tem sido oportuno para mostrar ao Governo que as fábricas podem trabalhar e empregar um número considerável de cidadãos, e que podem também responder as solicitações governamentais, não só em máscaras, mas possivelmente com outros acessórios, como uniformes hospitalares.

Solicitações ditam confecções

Graça Campos, que trabalha no estilismo há dois anos, possui um atelier onde tem trabalho com a sua equipa. Os preços variam de 1000 a 1500 Kwanzas, cuja confecção é tida conforme as solicitações. E, pelo facto de as mesmas serem reutilizáveis após a lavagem, Graça aconselha o seu uso por parte dos cidadãos, para além do valor económico.

“Fica muito mais em conta utilizar essas máscaras, porque pode ser utilizada durante todo o dia, e, depois, lavar para reutilizar. Esse é o trabalho que estamos a fazer no momento. Apesar disso, não temos um número fixo de produção. Por dia podemos fazer cerca de 70, mas, depende muito das solicitações”, aferiu.

Por essa razão, a estilista considera relevante o projecto, por mostrar a necessidade de se investir no sector, que agora “ajuda” na luta contra a doença. Pela sua relevância teme que a confecção seja afectada com a escassez de materiais, em consequência da produção, uma vez que são importados.

A título de exemplo, mencionou a dificuldade que tem tido em conseguir elástico no mercado formal e informal. “Até porque nas lojas já não encontramos. E com essa situação da doença no mundo, onde os países estão ‘isolados’, complica muito mais. Temos também de pensar no rendimento, porque trabalhamos com uma série de pessoas que precisam de ser remuneradas. Se tivéssemos aqui uma indústria têxtil de produção a funcionar, também veríamos os preços das máscaras mais acessíveis”, finalizou.

A Associação

A Associação da Indústria Têxtil de Confecção de Angola funciona desde 2017, tendo sido criada pela marca Modangola e o Fórum da Indústria Têxtil, que é promovida pela Tchussole. Possui mais de 30 associados, entre eles a fábrica Palm Confecções Lda., Tussole Prestações de Serviços, Costura Certa Produções, assim como as estilistas Marity Jóia, Lucrécia Moreira, Ana Loide, Nadir Taty, Dina Simão, Osias Nguza, Afonso Cabral e Tamar Marshai.

O seu objectivo é trabalhar em conjunto para averiguar o número de indústrias, estilistas e costureiros no país, com o objectivo de auxiliar na sua confecção, bem como fomentar o emprego. Pretendem ainda com a mesma constatar o número de empregabilidade, nível de confecção, mão-de-obra qualificada, entre outros assuntos, que visam dar respostas ao sector, da moda em geral.