De fora sabe melhor

De fora sabe melhor

Somos um povo que não gosta nada de inovar. Mas, ainda assim, estou algo expectante sobre criações possíveis dos nossos chefs.

Os restaurantes estão fechados, como se sabe, mas será que quando reabrirem terão todos outra vez as mesmas receitas de sempre? Bitoque, bife de quatro pimentas, arroz de marisco e peixe grelhado com salada de alface, pepino, cenoura e cebola. É uma pasmaceira.

Espero que os nossos chefs estejam em casa engajados a criar receitas e ementas que nos tragam novo gosto à vida quando, finalmente, nos desconfinarmos todos. Alguém que lance um livro de receitas pandémicas, ao menos.

Aqui desperdiça-se em demasia. Por exemplo, ninguém se lembra de compilar e apresentar receitas do tempo da guerra. No cerco do Cuito algumas famílias comeram folhas de bananeira. Ora, aqui foi em tempo de crise, de perigo, de fome, mas noutras paragens partes da bananeira têm lugar em imensos pratos. Alguém se lembra da receita do califebéu, que agora deveria ter estatuto de pitéu nacional? Era só encontrar forma de lhe variar a apresentação, com queijo lá dentro, com carne picada, com lombi bem picadinho, etc… Mas aqui não, comida de restaurante tem de ser o que qualquer tasca portuguesa serve. Ao menos houvesse a curiosidade de estudar a origem de boa parte das receitas europeias. Mas estou só aqui a falar de comida, olhemos para o resto também.

Dezenas de anos de guerra e o país, não criou o seu blindado, o seu avião, a sua espingarda, foi só comprar, comprar. O mesmo vejo agora com a Covid-19, só comprar. Ninguém ainda disse que cara tem o vírus ao chegar ao nosso país, ninguém disse de uma experiência in vitro sobre a sua acção numa célula com malária, ou dengue, ou num organismo malnutrido. Nem se o vírus sobrevive ao brututu. Anda o país à espera de receitas de fora, enfim!