Tele-aulas ganham espaço em tempo de confinamento social

Tele-aulas ganham espaço em tempo de confinamento social

A cada disciplina tem 25 minutos de aula, sendo que estas (as aulas) são dadas de manhã e à tarde. Em cada período as aulas estão divididas em três blocos, perfazendo um total de nove durante o dia. As primeiras lições são dirigidas aos alunos da iniciação e do ensino primário, de seguida evoluem para o I Ciclo do Ensino Secundário (7.ª, 8ª e 9.ª classes).

O método está a surtir resultados satisfatórios e merece aplausos de alguns encarregados de educação, como é o caso da dona de casa Esperança António, que no início do programa não estava convencida da qualidade das aulas ministradas por estas vias. Esperança decidiu dar uma oportunidade àqueles profissionais e, agora, passou a valorizar mais o conteúdo apresentado. Disse ainda que os filhos têm uma hora exacta para estudar e aprender mesmo sem saírem de casa, principalmente quando as aulas são acompanhadas por adultos.

Para esta interlocutora de OPAÍS, o Ministério da Educação realizou um grande esforço para ajudar os estudantes em época de Covid-19. Desta forma, disse, no fim do estado de emergência os alunos poderão aperfeiçoar o que aprenderam e não ficarão atrasados.

“Penso que o objectivo do programa é que os alunos não se desliguem totalmente da escola, exigindo maior acompanhamento dos pais durante o período que vivemos”, reiterou.

Por sua vez, a estudante de medicina Evarista Ferreira, mãe de três filhos, dois dos quais em idade escolar, também os motiva a estarem presentes nas tele-aulas e alterna com as tarefas enviadas pelos professores por meio de um grupo no WhatsApp, criado com este propósito.

Ela reconhece que por ser um programa concebido às pressas teve algumas falhas no início, que estão a ser superadas com o tempo e com a dedicação dos profissionais. “Cada um deve fazer a sua parte durante este período, para travar a propagação do vírus, e não apenas criticar”, defende.

Tal como outros encarregados de educação, a cabeleireira e youtuber Etelvina Gange avançou que concilia as tele-aulas dos filhos com as tarefas que os professores enviam durante este período de quarentena.

Na sua opinião, as aulas apresentadas pelos órgãos de informação melhoraram consideravelmente. Etelvina Gange acredita que a participação de docentes mais jovens, com métodos de ensino modernos, contribuiu para o êxito do programa. Normalmente selecciona as tele-aulas, porque alguns temas coincidem com o que os professores já encaminharam para os seus filhos e vê que não há necessidade de repetir.

Para ela, que também já esteve na “pele” de professora, a explicação das matérias de forma clara e resumida desperta o interesse dos estudantes.

Estudantes aprendem novos conteúdos

O estudante do Colégio Primazia, no Kilamba, Manuel Patrício, que transitou para a 9.ª classe, conta que começou a assistir as aulas há quatro semanas e reconhece que o método permite aprender matérias novas e rever as das classes anteriores.

O adolescente disse ter aprendido temas como o movimento rectilíneo variado, prefixação e sufixação, teoria celular e técnica citológica, bem como a tabela periódica. “Algumas vezes fico distraído do horário das tele-aulas, mas a minha mãe faz-me recordar. Também, quando não entendo a explicação, posso recuar porque em casa temos este dispositivo”, explicou.

Apesar de ter reconhecido que está cansado de permanecer em casa, Manuel diz que assim não precisa de se preparar para ir à escola e receber aulas.

Outro estudante satisfeito com as aulas ministradas por via da televisão é Abel Júnior, que todos os dias fica atento ao horário e principalmente às aulas de Química e Português, duas disciplinas que mais gosta. “Gosto de acompanhar as aulas na televisão porque são rápidas e os professores explicam de forma pausada”, disse.

Novo método de ensino

O professor e formador Diabanza Fernando, que lecciona na Escola 103, localizada no bairro Rocha Padaria, em Luanda, realça que a tele-aula é uma experiência única, que, para além de ensinar, o ajuda a aprender todos os dias, pois as linguagens radiofónica e televisiva exigem do professor mais treinamento, uma vez que é fundamental o abrir e fechar das vogais.

“As aulas têm sido supervisionadas pelo Ministério da Educação e os encarregados de educação que acabam interagindo, através das redes sociais ou telemóvel, com alguns subsídios”, explicou. Segundo ele, estar diante das câmaras é difícil, comparando com dar normalmente as aulas com os alunos presentes, porque na escola os alunos interagem e existe um grande espaço para explorar. Já nas gravações é necessário usar técnicas de o monólogo, o que pode ser difícil nos primeiros dias, mas com a prática “acabamos por registar uma grande evolução”.

Diabanza salientou que o feedback motiva a preparação das aulas e no bairro em que vive os meninos interpelam-no para mostrar as tarefas dadas nas tele-aulas.

A leccionar a 5ª classe na escola 110, no bairro Prenda, Jorge Francisco António, de 24 anos de idade, referiu que o programa não ajuda somente os alunos, mas também os adultos que interromperam o ensino escolar, por alguma razão. “Muitos adultos felicitam o programa e confessam que também aprendem ou actualizam os seus conhecimentos”, salientou.

Questionado sobre o que mudou com as tele-aulas, Jorge António pontualizou que o facto de ser um projecto de âmbito nacional, de parceria entre os ministérios da Educação e da Comunicação Social, há mais recursos e meios de ensino, o que torna a aula mais dinâmica.

“Quando precisamos de mapas, por exemplo, tabela periódica, globo ou esqueleto humano para ministrar as aulas, tudo é solucionado rapidamente”, explicou. Segundo ele, cada classe está constituída por grupos de 4 ou 5 elementos, nomeadamente professores, metodologistas e coordenadores, que interagem para encontrarem o melhor método de ensino.

O professor Amaro Augusto, que lecciona na escola 1151, mais conhecida por Escola Nova, enalteceu a iniciativa do Ministério da Educação em parceria com o Ministério da Comunicação Social, através do Canal 2 da Televisão Pública de Angola e da Rádio Nacional de Angola.

“Estou satisfeito por fazer parte de um projecto de âmbito nacional que irá ajudar muitas crianças a terem contacto com diversos temas escolares neste período de confinamento social”, explicou.

Na sua opinião, mesmo depois desta fase, o projecto de tele-aulas deve permanecer, para apoiar os meninos que estão fora do sistema de ensino, alguns porque não têm possibilidade de frequentar uma escola ou explicação por inúmeros motivos.

Melhorar e reforçar o aprendizado

Em entrevista à imprensa, a ministra da Educação, Luísa Grilo, sublinhou haver um grande interesse que o programa atinja um grande número de crianças, essencialmente no meio rural, par fazerem tarefas e, quiçá, tentarem respostas às perguntas que serão respondidas em programas posteriores.

A responsável reconhece que o programa foi concedido às pressas, no entanto, espera que continue a manter as crianças em casa, aprendendo durante os 25 minutos de cada aula. “A ideia não é avaliar os conhecimentos dos estudantes, mas sim reforçar e melhorar o aprendizado, ocupando o tempo com actividade útil”.

Outro objectivo, segundo a dirigente, passa por incentivar os alunos a fazerem os exercícios e a aperfeiçoar as competências sem o conteúdo de avaliação. Para a responsável, os professores mostram- se agora mais confiantes ante as câmaras e conseguem transmitir as aulas com segurança.