A ré Covid-19

A ré Covid-19

Quando se usa uma desculpa que não é desculpa, o que se obtém é o ridículo. A União Africana, ontem, teve a grande lata de associar a Covid- 19 ao atraso económico do continente. Haja cara. Mas não estranha, em Angola há também quem culpe a doença por tudo o que de mal anda por cá. Depois da guerra e depois (este bem recente) da governação de José Eduardo dos Santos, a Covid-19 até parece um maná vindo do céu.

Ontem, alguns líderes africanos devem ter mesmo acreditado ser culpa da Covid-19 a migração forçada e arriscada de milhares de jovens, a saída de cérebros, a falta de laboratórios, de uma verdadeira rede de investigação científica no continente, a fuga de capitais e até dos bens móveis e imóveis que guardam no Ocidente.

Por cá, depois da alteração do IRT, de uma série de medidas que deixaram as empresas com a corda no pescoço, depois de o desemprego ter vindo a subir desde há anos para números assustadores, eis que o início do fim do confinamento afinal vem para poupar danos económicos. Quais danos económicos, se o país depende de importações para se alimentar e se o provedor do bolso é quase que exclusivamente o petróleo cujos preços nos mercados continuam pelas ruas da amargura?

Higienização em escolas sem água e sem casas de banho? Onde as direcções pedem aos pais que agora estão desempregados que levem baldes e vassouras? Alguém por favor que conheça e sinta este país?

O estado de emergência teria sido bem aproveitado se se redesenhasse tudo, reconhecendo erros próprios também, mas por todo o continente estamos a levar com discursos bonitos, requentados, e com a condenação “política” da Covid-19, culpada de tudo, mesmo estando a poupar milagrosamente o continente. Ou não? Os números não são verdadeiros?