Documentário sobre os percursores angolanos na Rumba Congolesa na “lente” de Nguxi dos Santos

Documentário sobre os percursores angolanos na Rumba Congolesa na “lente” de Nguxi dos Santos

O produtor e realizador, Nguxi dos Santos, que se encontrava confinado na sua residência, devido ao estado de emergência em consequência da Covid-19, ora cessado, continua a trabalhar para a conclusão do documentário, que visa retratar o contributo de artistas angolanos na evolução da Rumba Congolesa, na República Democrática do Congo (RDC).

A película, sem data prevista para estreia, com duração de uma hora, terá como destaque o músico Sam Manguana, tido naquele país como um dos grandes percursores, além de depoimentos de vários artistas também angolanos, residentes naquele país, sobre Manuel Oliveira (falecido), conhecido como fundador confesso deste estilo dançante, tendo se instalando na cidade portuária de Matadi, em 1921.

Trata-se dos músicos Koffi Olomidé, Lutamba Simaro, Josar Niokalongo, Janó Bomenga e o congolês Verkisse Kiamuangana, que são também olhados como fortes potenciais neste estilo harmonioso, no continente.

Em conversa exclusiva com OPAÍS, Nguxi dos Santos disse que o objectivo é trazer a público e eternizar os vários percursores da Rumba, maior parte angolanos residentes na RDC e noutros países africanos, que se destacaram e viveram essa revolução no Congo. Disse ainda que hoje são tidos como os grandes “rumberos”, porque tocaram e evoluíram a música no tempo de Franco Luambo, mas ainda assim, os seus trabalhos são pouco falados na sua terra natal, Angola.

“Quase que não se dá valor a este estilo musical. Então, achei que ao fazer esse documentário, que a RDC muito deles reconhecem. Por isso, achei conveniente fazê-lo, principalmente, sobre Sam Manguana, que esteve radicado por muito tempo lá, nasceu aí, mas nunca teve um documento local”, explicou.

O também fotógrafo referiu que, actualmente, esse estilo também dançante, sobretudo, na Europa e nas Américas foi feito ao nível da cultura com o povo do norte de Angola, em África.

“Os que tocam este estilo musical na Europa e outros continentes têm muito mais força do que os que fizeram aqui, em relação ao Sam Manguana. Achei que tínhamos muito a ver com a Rumba Congolesa, porque até os maiores grupos que tocaram este estilo musical, ou melhor, os grandes executores instrumentistas são angolanos”, constatou.

Estreia

Quanto à estreia da película, disse que pretende fazê-la no Zaire, actual RDC, isso, por ter começado com as gravações neste papaíís, cujos intervenientes, a maioria, são aí residentes.

“Por isso, decidi assim. Entrevistei uma série de mais velhos, que acabaram por morrer agora, como o mais velho Lutamba Simaro, um dos membros do conjunto Zaikó Langa Langa, ambos angolanos que vivem lá. Por essa e outras razões me interessa valorizar e eternizar o documentário”, aferiu.

Destaque

Sobre o artista em destaque no documentário, Sam Manguana, o realizador ambiciona mostrar o trajecto do músico, filho de Angola, que viveu longe da sua pátria e sobre os passos promissores que o levaram a triunfar naquele país.

“Vou falar de Sam Manguana como rumbero, que viveu no Zaire como estrangeiro e sobre a luta que teve de enfrentar para chegar até onde chegou”, referiu Nguxi.

Outros projectos

Nguxi dos Santos, durante o estado de emergência, que decorreu de 27 de Março a 25 de Maio, aproveitou trabalhar noutros projectos em carteira.

Trata-se do programa musical televisivo denominado “Nós os da banda”, resultante de shows intimistas intitulado “Moamba”, desenvolvidos no Palácio de Ferro, em Luanda, há cerca de dois anos.

“Estou a preparar o trabalho, onde vou apresentar esses espectáculos. Neste preciso momento estamos a fazer o fecho do programa. Ainda no Domingo passou um documentário que saiu daqui, do meu estúdio, fruto daquilo que vamos filmando. Embora esteja aposentado, trabalho mesmo em casa”, disse.

Avançou que devido ao período de confinamento social, os trabalhos foram feitos em equipa, mas cada membro a trabalhar nas suas residências, um método que considerou viável no momento.

Por essa razão atenta que a Covid-19 tenha dado uma outra dinâmica de vida aos cidadãos, de mostrar outra realidade, ”além de travar algumas coisas, porque pretendia falar com algumas pessoas, fazer filmagens, que não era possível no momento. Por isso, trabalhamos com aquilo que tínhamos arquivado”.

Questão económica

Referiu que uma das grandes barreiras aos labores desenvolvidos pela classe é a falta de dinheiro, que faz com que muitos deixem de prosseguir, porque, assim como outros, requer o pagamento salarial, com base no contrato.

“Eu, felizmente, tenho o material filmado há já muito tempo e os que me rodeiam estão a trabalhar comigo agora. O meu filho como câmara, a minha neta na produção, tinha a Beatriz que esteve a trabalhar em sua casa e o editor. Por isso, não tenho tido grandes dificuldades”, elucidou.

Dificuldades aumentaram

Nguxi disse ser prematuro abordar sobre a situação após o confinamento social, onde o funcionamento colectivo será reposto em parte, com base nas orientações do Executivo, por achar o futuro imprevisível.

“Como sabe, é complicado tentarmos ver o que vai acontecer no futuro, porque todos os dias a própria situação se altera. É uma ‘guerra’ que temos de enfrentar, de certa forma, actuarmos conforme a situação e o momento. Acho que até ao próximo ano vamos ainda continuar a andar com as máscaras no rosto, porque não vai ficar ultrapassado de imediato”, sublinhou.

Em termos de apoios para as futuras produções dos profissionais, achou preocupante pelo facto de algumas empresas, que antes apoiavam, estarem agora em baixa, no que tange à rentabilidade. Para si, o facto complicará ainda mais a produção de trabalhos do género, pela carência de verbas monetárias.

Descontente, disse ainda que apesar de o próprio Estado alinhar as “políticas” culturais, não haver ainda muito com que se ganhar com elas.

“Antes era pior, agora será ainda mais. Também, um país como este, que não vela pela cultura, não faz “nada”! Se nós estivéssemos a ganhar alguma coisa da cultura, poderíamos dar outros passos”, lamentou.

Lastimou, igualmente, o facto de pouco se falar sobre a produção cinematográfica angolana no mundo, conforme acontece com os outros países. “Estamos no século XXI, não temos como nos identificar. Nós sabemos quem é a França, Inglaterra e a Espanha, mas Angola continuamos a não saber”.