SINPROF diz ser impossível limpar e desinfectar salas de aulas em dez minutos

Guilherme Silva, presidente do SINPROF, declarou, a OPAÍS, que será impossível fazer-se a limpeza e desinfescção das carteiras em apenas cinco ou dez minutos, como orienta o Ministério da Educação no Decreto Executivo nº 5/2020, de 28 de Maio.

Este diploma legal estabelece que no ensino geral as turmas serão divididas em dois subgrupos, correspondendo a cada um 50 por cento dos alunos, os quais devem ser atendidos em dois turnos de 2 horas e 30 minutos.

O primeiro turno do período da manhã será das 7h30 às 10h00. Durante este espaço, serão ministrados quatro tempos lectivos, com intervalos de apenas 5 minutos. O segundo turno começará 5 minutos depois, isto é, às 10h05 e terminará às 12h35. Manter-se-á a mesma quantidade de tempos lectivos e os intervalos vão durar somente 5 minutos.

Já as aulas no primeiro turno do período da tarde começarão 10 minutos depois, isto é, às 12h45 e terminarão às 15h15. O segundo irá das 15h25 às 17h55, mantendo assim o intervalo de 10 minutos.

“Em dez minutos não é possível fazer-se a limpeza e a desinfecção dos tampos das carteiras. Por regra, só depois disso é que deve entrar um outro grupo, de forma ordeira e se posicionarem nas carteiras”, frisou Guilherme Silva.

O sindicalista afirmou serem falsas as informações de que os professores estão a se opor ao calendário reajustado pelo MED, que prevê o reinício das aulas a dia 13 de Julho e o término a 31 de Dezembro.

Reconheceu que há de haver um momento em que os profissionais do sector deverão apreender a conviver com a pandemia da Covid- 19. No entanto, considera não ser este o momento, por não estarem reunidas as condições para impedir a expansão do vírus nas escolas públicas.

“O Executivo, através do Ministério da Educação, está a prometer coisas que não acreditamos que serão criadas em 45 dias, porque a prática vem demonstrado isso”, frisou. Acrescentou de seguida que, “por outro lado, em 10 minutos não é possível fazer-se limpeza, higienização da sala e entrar um outro grupo de alunos. E mais, há escolas primárias que não têm, sequer, pessoal de limpeza”.

Crianças limpam escolas por falta de trabalhadores

De acordo com o SINPROF, nas escolas primárias em que tal ocorre a limpeza está sob a responsabilidade dos alunos. Há outras que não têm sequer material de limpeza, tais como baldes, esfregonas, panos de chão e vassouras. Em outras, só existem porque os pais adquiriram através das suas comparticipações.

Questiona a quem de direito como será feita a limpeza em tais instituições, já que os alunos estão proibidos de tocar em determinados objectos e superfícies, uma vez que têm de entrar directamente na sala de aulas e aí permanecerem até ao horário de saída.

Guilherme Silva disse que o Governo demitiu-se das suas responsabilidades relacionadas ao fornecimento de materiais de limpeza, bem como a contratação de pessoal para exercer essa actividade há vários anos. “É essa a preocupação que estamos a apresentar. Nós também já temos saudades de estar no convívio com os nossos alunos”, enfatizou.

Por outro lado, considerou salutar a medida de que assim que tocar o sino de saída os estudantes devem ser conduzidos de forma ordeira até ao portão da escola onde se encontrarão os pais a aguardar por eles.

Esquecidas salas de aulas debaixo de árvores e improvisadas em pátios

O líder do SIN PROF disse que o Governo ter-se-á esquecido das pessoas que estudam debaixo de árvores ou em salas improvisadas em pátios das escolas. “São essas questões que temos estado a levantar, no sentido da salvaguarda da vida que vem sendo dito, por sua Excelência Presidente da República, que é um bem precioso. É só isso!”.

Disse que a maioria dos pais, principalmente os que habitam nas zonas ruais, tem três a quatro filhos na escola e enfrentam dificuldades financeiras até para comprar um caderno.

Guilherme Silva explicou que não estão a antecipar problemas, uma vez que os mesmos existem e estão à vista de todos há décadas. “Não estamos a antecipar nada. Nós estamos no terreno também há décadas, talvez os nossos colegas da direcção do Ministério da Educação é que não conhecem a realidade das escolas, porque só estavam nos gabinetes provinciais de Educação e agora estão na Direcção Nacional”, disse, sublinhando que, por isso, não conhecem a realidade das escolas.

A título de exemplo, o sindicalista afirmou que há escolas que tão têm água, mesmo na capital do país.

O presidente do SINPROF disse que auguram que em 45 dias sejam criadas as condições adequadas para o reinício das aulas sem qualquer possibilidade de propagação do Coronavírus nos estabelecimentos de ensino de Cabinda ao Cunene e do Luau ao Lobito. Enfatizou que os representantes do SINPROF nas províncias, municípios e comunas, como parceiros do Governo, vão monitorar a disponibilização de tais materiais nas escolas, a fim de denunciarem onde tal não ocorrer.

Declarou que quer o Decreto Presidencial, quer o Decreto Executivo da ministra da Educação, Luísa Grilo, demostram uma certa flexibilidade ao afirmarem que as aulas só terão início se tais condições estiverem criadas. “O decreto diz que nas escolas onde não existirem essas condições criadas, as aulas não reiniciarão. Se prometeram, que cumpram”, concluiu.

Operadores do sector dizem ser possível com reforço de pessoal

António Neto, director administrativo da empresa de limpeza Franzeke, considera que 10 minutos é suficiente para higienizar uma sala de aulas com 50 carteiras, desde que haja material disponível. O material a que se refere é: são água, baldes, panos e detergentes. “Pode até ser menos, dependendo da agilidade do técnico encarregue do serviço”, frisou.

Disse que tratando-se, por exemplo, de uma escola com 10 salas de aulas, cada uma delas deverá ter um funcionário, para acelerar o trabalho.

“Deve existir um reforço de pessoal para poder corresponder ao tempo que se propõe que o trabalho seja realizado”.

Explicou que para os gestores escolares conseguirem cumprir o tempo estabelecido pelo Ministério da Educação para limpeza das salas durante a mudança de grupos de alunos, devem ter funcionários bastante ágeis.

Já Sandra Fernandes, gestora da empresa de limpeza de residências que opera na centralidade do Kilamba, disse que seriam necessários, no mínimo, 15 minutos para a higienização de uma sala de aulas de 50 carteiras, incluindo também as janelas.

Do seu ponto de vista, é bastante difícil alguém conseguir fazê-lo em 10 minutos. “Não sei se tem a ver com a nossa forma de estar ou de ser, entre nós há muito poucas pessoas com a dinâmica que eu vejo no exterior. Eles são extremamente rápidos”, frisou.

Para Sandra Fernandes, existem procedimentos a ser cumpridos para que se faça a limpeza correctamente.