Aconteceu na Vila-Alice

Aconteceu na Vila-Alice

Entrei na farmácia numa manhã para comprar medicamentos. A Vila-Alice é ainda um daqueles bairros onde o cidadão pode andar sem ser incomodado e praticar certos actos à vontade. Quem vem da Eugênio de Castro, a partir da Senado da Câmara, até à Praça do Soweto, gasta se tanto dois minutinhos, de carro. Há espaço suficiente para estacionamento. Excepto quando por lá acontecem alguns eventos que bem podiam ter lugar em outras paragens mais espaçosas. Por isso, naquele dia, como sempre, estacionei a viatura e dirige -me à tal farmácia. Sem qualquer preocupação.

Não havia ainda o sistema de eletrônico de extração de senhas e as pessoas eram atendidas conforme a ordem de chegada. A minha vez chegou e fui atendido. De regresso, deparo-me com a viatura bloqueada por outra e essa outra viatura tinha um papel, por dentro, na parte de frente: “ Volto já. Telefone…” Assim mesmo e mais nada. Foi o que fiz. Liguei para o tal número e numa primeira e segunda vez ninguém atendeu.

Na terceira, atendeu um sujeito e que vinha a passos apertados com o telefone colado ao ouvido. Percebi logo ali que era quem respondia pela viatura que me bloqueara. Ali começou uma troca de palavras:

– O senhor acha que basta um papelito para ter legitimidade de bloquear quem quer que seja?

– Peço desculpa, o senhor quem é?

– Não sou ninguém, está a ver aqui alguém? (rsrsrsrsrs ) O sujeito passou-se. Começou um ping -pong de palavras ao fim do qual o sujeito revelou estar ao serviço dum general: eu que ligasse para confirmar. Em vez disso, usei o meu telemóvel e fotografei a chapa da viatura do abusador. Acto contínuo, entrei na minha e fui-me embora.

Estava à milhas do local dos eventos quando recebo um telefonema de um número desconhecido. Não era o do infractor, esse eu já conhecia, até pela primeira conversa havida. Ao contrário das minhas próprias regras, atendi:

-Está lá? – Sim… É o senhor que há pouco fotografou a viatura e… Pá pá pá pá ( conversa fiada)

– Sim, sou eu.

-O que pretende fazer com as imagens?

– É o que senhor saberá quando o registo da queixa lhe cair na barriga, perdão, nas mãos. Olha, eu sou o… (forneceu o nome dele) do Comité Provincial de Luanda.

Nesse, ponto soube quem era.

– Sei, sei, respondi-lhe, e daí?

– Peço desculpa, é o meu motorista que estava com a viatura, não foi uma atitude correcta da parte dele.

Pediu desculpas mais uma vez. (kiakiakiakiakia)

-Do quê que o senhor se ri?

– Não estás a reconhecer a minha voz. -(hummmm, pêra aí)

– Oh ! É você? (kiakiakiakiakia)

– Porra ! Queres me matar do coração ou quê …

– Nada, meu camarada, só se for de copos ! Ora, boa ideia, nunca mais nos vimos.

– Combinado.

Kajim Bangala