Gestor defende digitalização como “grande passo” para evolução do país

Gestor defende digitalização como “grande passo” para evolução do país

O argumento foi defendido pelo CEO da Angola Cables, António Nunes, durante o webinar sobre Economia Digital Pós Covid-19.

“Estamos a atravessar um momento histórico importante para a digitalização do país. Há uma crise no sector petrolífero, o nosso principal sector económico está a morrer, sendo esta, uma grande oportunidade para repensarmos no modelo económico nacional, olhando para a digitalização como uma nova onda de evolução tecnológica e base para o desenvolvimento, no prazo de 10 anos”, sustenta António Nunes.

Segundo o interlocutor, o Estado deve criar um ambiente saudável para que o ecossistema se desenvolva, necessitando de mais incentivos como a diminuição de taxas, apoio a start-ups, visto que o ecossistema não está baseado apenas nas infra-estruturas.

“A operacionalização da máquina do Estado, se for digitalizada automaticamente, será mais eficiente e criará benefícios. Então, é preciso um plano estratégico do Estado para digitalizar a sua governação. Nos mercados em que actuamos, África do Sul e Brasil, um dos maiores compradores de serviços digitais é o próprio Estado, porque eles têm pleno interesse que toda essa máquina seja eficiente”, reforça.

O webinar Economia Digital Pós-Covid-19, promovido pela Angola Cables, contou, para além de António Nunes, com a participação do PCA da Angola Telecom, Adilson dos Santos, do CEO da ZAP, José Carlos Lourenço e do Administrador da Unitel, Amílcar Safeca, que concordaram que o país precisa melhorar o seu ecossistema para fortalecer a conectividade, melhorando as infra-estruturas com outras medidas estruturais.

“Fornecemos Internet para vários países africanos, grande parte na costa africana, e a qualidade de Internet que entregamos ao cliente em Angola é a mesma que damos à África do Sul e ao Brasil. No entanto, o cliente final no nosso país, não recebe essa qualidade, porque ainda falta criar as infra-estruturas nacionais. São essas condições que precisam de ser criadas, para potenciarmos Angola”, esclarece António Nunes.

Defendeu que é preciso potenciar os pequenos operadores para que possam distribuir a Internet no meio dos bairros e outros locais de uma forma barata e eficiente para aquela realidade, como acontece no Brasil, onde os pequenos operadores têm um grande peso na venda de Internet.

O gestor defende que o mercado angolano precisa de ser mais atractivo para que os operadores internacionais como a Google e outros, comparticipem na Internet como já acontece na África do Sul. “Se olharmos para a África do Sul vamos reparar que a Google comparticipa na Internet, mas não na de Angola. Então temos que trabalhar para atingir o break-even da actividade e atrair grandes operadores mundiais”. 

Angola Cables mantém preços

A Angola Cables anunciou, recentemente, que está a oferecer ao mercado o dobro da capacidade de Internet com o mesmo valor, o que significa uma redução do preço em 50%. Porém, com a desvalorização constante do Kwanza desde o investimento feito em dólares norte-americanos, é muito difícil baixar mais os preços que estão implícitos à realidade da economia.

Os preços nacionais não são só altos nas telecomunicações, todos os preços têm como base o contexto económico de cada país e cita, por exemplo, que Angola não produz fibra, sendo grande parte dos equipamentos importados, o que obriga ao uso de moeda estrangeira.

“Mais de 70% das operações da Angola Cables é paga em dólares, com o handicap de que se não pagarmos os serviços aos operadores internacionais cortam-nos”, referiu.  O responsável defende que “quanto maior for o nosso consumo maior será a nossa capacidade de oferta e atracção de operadores internacionais. Por isso é necessário uma agregação ao nível dos operadores para termos, em conjunto, um ganho de valor associado, porque se fizermos as coisas de forma independente teremos muitas dificuldades, o nosso mercado é pequeno”.  

País equaciona participação em cabo 2 Africa

Durante o debate, os painelistas pronunciaram-se, pela primeira vez, sobre o cabo 2 Africa adiantando que, pela situação económica actual do país, não consta, entre as prioridades, fazer um investimento no novo cabo submarino, porém acham que ainda é cedo para dar o assunto como encerrado, sendo que há outras formas de beneficiar das regalias do 2 Africa.

O cabo 2 Africa é, sem dúvida, uma infra-estrutura muito importante, mas neste momento a Angola Cables não vai entrar no projecto por falta de capacidade financeira suficiente para investir, revelou o responsável.

“É um investimento acima dos 35 milhões de USD e visto que o cabo em questão ainda não está em construção, quanto mais tarde se entrar mais caro será. Portanto, muita água ainda vai passar por baixo da ponte mas, uma coisa é certa, seria muito importante que esse cabo tocasse em Angola para podermos dar continuidade ao hub angolano das telecomunicações”, conclui António Nunes.