Milhares manifestaram-se em Paris contra o racismo e a brutalidade policial

Milhares manifestaram-se em Paris contra o racismo e a brutalidade policial

A Polícia não deteve esses contra-manifestantes, mas os moradores do prédio rasgaram parte do estandarte, um deles levantando o punho em sinal de vitória.

Os agentes impediram as pessoas que participavam na manifestação principal de se aproximarem dos activistas de extrema-direita.

A Polícia cercou o percurso pretendido da marcha, preparando-se para uma possível violência depois de confrontos dispersos em manifestações anteriores no país, também inspiradas no movimento Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”) e a morte de George Floyd às mãos da Polícia norte-americana.

A manifestação na capital foi uma das várias manifestações em França e noutros países durante este fim de semana.

Myriam Boicoulin, de 31 anos, nascida na ilha da Martinica, território francês no Caribe, disse ter marchado porque quer “ser ouvida”. “O facto de ser visível é enorme. [Enquanto mulher negra a viver em Paris] sou constantemente obrigada a adaptar-me, fazer concessões e não levantar ondas  para ser quase branca, de facto.

É a primeira vez que as pessoas nos veem. Deixem-nos respirar”, afirmou à agência norte-americana Associated Press.

A marcha parisiense deste Sábado foi liderada por apoiantes de Adama Traore, um homem francês negro que morreu sob custódia da Polícia, em 2016, em circunstâncias que permanecem incertas, apesar de quatro anos de autópsias constantes, sem que ninguém tenha sido acusado nesse caso.

“Estamos todos a exigir a mesma coisa justiça justa para toda a gente”, afirmou a irmã de Traore, Assa, à multidão. Ela tem estado constantemente à procura de transformar o comité de apoio ao seu irmão num movimento mais amplo pela justiça social, principalmente depois da morte de Floyd.

No protesto, um enorme retrato mostrava uma face, em que metade era a cara de Floyd e a outra a de Traore. Faixas ligadas entre árvores à volta da praça da República exibiam nomes, riscados a vermelho, de dezenas de outros que morreram ou sofreram violência às mãos da Polícia francesa.

Durante a marcha, o chefe da polícia de Paris ordenou os comerciantes e funcionários camarários para limpar os passeios, de forma a impedir que algo pudesse ser incendiado ou usado por prevaricadores contra a Polícia.

Ajuntamentos com mais de 10 pessoas continuam proibidos em França, como medida de combate à propagação da Covid-19, apesar de os protestos terem sido realizado também em Marselha, Lyon e outras cidades.

Depois dos protestos globais desencadeados pela morte de Floyd, o Governo francês está sob crescente pressão para responder a acusações de vários anos acerca de violência excessiva das autoridades, principalmente da Polícia, particularmente contra minorias.

Investigadores documentaram as criações de perfis raciais por parte da Polícia francesa e, recentemente, foram abertas investigações a grupos privados para polícias no Facebook e Whatsapp devido a comentários racistas.

O ministro do Interior, Cristophe Castaner, prometeu esta semana acabar com o racismo e anunciou a proibição de estrangulamentos por parte da Polícia.

Porém, os sindicatos da Polícia realizaram as suas próprias manifestações, na Sexta-feira, dizendo que estão a ser rotulados injustamente como racistas por causa de alguns agentes extremistas e que não têm ferramentas suficientes para lidar com suspeitos violentos.

Depois de se reunir com representantes sindicais, Castaner afirmou que a Polícia vai começar a experimentar o uso alargado de armas ‘taser’ no futuro, apesar das preocupações com a sua segurança. Sobre as imagens das manifestações dos polícias, Assa Traore disse que não ficou “revoltada”.

“Fiquei com vergonha da Polícia francesa. Em todo o mundo, o único país onde os agentes policiais se manifestaram para manter a sua permissão para matar foi a França”, lamentou.

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu a 25 de Maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.

Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais foram palco de actos de pilhagem.

Pelo menos 10 mil pessoas foram detidas desde o início dos protestos, e as autoridades impuseram recolher obrigatório em várias cidades, incluindo Washington e Nova Iorque, enquanto o Presidente norte-americano, Donald Trump, já ameaçou mobilizar os militares para pôr fim aos distúrbios nas ruas.

Os quatro polícias envolvidos foram despedidos, e o agente Derek Chauvin, que colocou o joelho no pescoço de Floyd, foi acusado de homicídio em segundo grau, arriscando uma pena máxima de 40 anos de prisão.

Os restantes vão responder por auxílio e cumplicidade de homicídio em segundo grau e por homicídio involuntário.

A morte de Floyd ocorreu durante a sua detenção por suspeita de ter usado uma nota falsa de 20 dólares numa loja.