Milhares de cidadãos defendem eliminação do empreendedorismo do currículo escolar

Milhares de cidadãos defendem eliminação do empreendedorismo do currículo escolar

O estudo levado a cabo por este órgão afecto ao Ministério da Educação, em 2017, aponta que, das 3.160 pessoas que responderam correctamente ao inquérito, 2.309, equivalentes a 73,1%, são a favor da eliminação da disciplina de “empreendedorismo” no primeiro ciclo do ensino. Uma outra parte, na ordem dos 22%, defende o mesmo em relação à sua vigência no currículo de formação de professores para o ensino geral. 

No entender de 1.908 cidadãos, isto é, de 60,4% dos participantes, o mesmo destino deve servir para a disciplina de “educação laboral”, já a quantidade de pessoas que gostaria de ver eliminada a de “educação visual e plástica” é de 1.115, equivalente apenas a 35,3% dos inquiridos.    

De acordo com o documento a que OPAÍS teve acesso, a disciplina de empreendedorismo teve uma média de rejeição acima dos 70% tanto por parte dos alunos como das autoridades tradicionais, gestores, políticos e outros. Quanto aos encarregados de educação ouvidos pelos inquiridores, 69% partilha da mesma opinião.

Os pesquisadores inquiriram pessoas residentes nas províncias de Luanda, Uíge, Cabinda, Cunene, Moxico, Namibe, Huambo e Huíla, a fim de obterem amplas contribuições para estruturar referências curriculares relativamente diversificadas sobre as condições e as possibilidades de melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem no país. 

“O inquérito foi o mais representativo possível das diversidades regionais, religiosas, etno-linguísticas, raciais, político-partidárias e de classe da população angolana”, lê-se no documento.

Os estudiosos consideram que a proposta de eliminação dessas disciplinas no currículo do I Ciclo do Ensino Secundário constitui um contributo para desafogo do plano de estudos que conta com 13 disciplinas, abrindo caminho não só para melhorar a gestão do currículo, mas também para a implementação da integração curricular que possibilita a abordagem de tudo o que é necessário, a partir de situações-problemas.

No que tange as vantagens que isso pode trazer, explicam que, valendo-se da transversalidade, interdisciplinaridade, intradisciplinaridade e outras formas de integração curricular, a eliminação de algumas disciplinas do plano de estudo do I Ciclo permitirá que tanto os conteúdos das disciplinas a eliminar, quanto de outras áreas de saber jamais abordadas no currículo, terão possibilidades de serem abordados no quadro de uma nova estratégia:

“A CHAVE (Conhecimento, Habilidade, Atitude, Valor e Ética) da vida, recorrendo-se à integração curricular e às interactividades intelectuais, físicas, verbais, sensoriais, afectivas e sociais”, garantem.

Na altura em que o estudo foi elaborado, o Ministério da Educação, liderado, na época, por Maria Cândida Teixeira, estava a levar a cabo a construção de uma revisão curricular que seria implementada a partir de 2022, baseando-se na Lei 17/16.

Em função dos resultados acima apresentados, os inquiridores manifestaram que auguram por um currículo que venha capitalizar a essência tanto das teorias sócio-construtivistas, que valoriza as múltiplas relações associadas aos processos de aprendizagem e o papel do sujeito nestes, como das tendências pedagógicas progressistas que defendem a consideração das experiências e das histórias de vida dos sujeitos em todos os momentos da aprendizagem

Propostas de eliminação no II Ciclo do Secundário Geral.

Em relação às disciplinas ministradas da 10ª a 12ª classe, os inquiridores são de opinião que devem ser eliminadas fundamentalmente três disciplinas do currículo do II Ciclo do Ensino Secundário e apontam para a “teoria prática de design”, o “desenho” e as “técnicas de expressão artística”.

Neste particular, o nível de rejeição das mesmas não é tão elevado como acontece no ensino geral, sendo que da população inquirida, 34,1% optou por eliminar a Teoria Prática de Design, 26,9% a de Desenho e 24,1% a de Técnicas de Expressão Artística.

“Os dados desse indicador para o caso do II Ciclo Geral apenas confirmam os discursos recorrentes nos debates sobre a qualidade educativa que também é explicável a partir das disciplinas dos planos de estudos”, diz o estudo.

Fundamenta que, por isso, tratando-se de um ensino geral que visa desenvolver competências genéricas nos sujeitos em construção histórico-social, “a eliminação dessas disciplinas que mais se associam à profissionalização constitui uma possibilidade de melhorar a qualidade do desenho curricular, visando o desenvolvimento integral dos sujeitos de aprendizagem através da CHAVE da vida e suas interactividades (intelectuais, físicas, verbais, sensoriais, afectivas e sociais)”. 

Revisão aos planos de formação de professores

A qualidade e os resultados do plano de estudo de formação de professores do I Ciclo do Ensino Secundário (da 10ª a 13ª classe) também foram objectos de estudos. Os inquiridos sugerem a eliminação de quatro disciplinas no lugar de três, nomeadamente 22% o “empreendedorismo”, 21,3% a “história da educação física”, 21,3% a “sociologia do desporto” e outros 21,3% a de “atelier”.

Os resultados acabaram por surpreender os pesquisadores porque esperavam por propostas de três disciplinas a eliminar, mas as médias das respostas produzidas pelos inquiridos sugerem a eliminação de quatro.

“Olhando para as sugestões das disciplinas a eliminar do currículo do II Ciclo da formação de professores do I Ciclo, percebe-se a necessidade de se diminuir o número de disciplinas como forma de se abrir o caminho para melhorar a gestão do currículo, por um lado, e, por outro, para a implementação da integração curricular que possibilita a abordagem de vários temas candentes a partir de situações-problemas”, diz o estudo.

Já em relação ao plano de estudo da formação de professores do ensino primário (da 10ª a 13ª classe), a sugestão recai para a eliminação de três disciplinas, nomeadamente, o “empreendedorismo”, o “estudo do meio” e “expressões”. “As médias apontam para a eliminação do Empreendedorismo (56,1%), o Estudo do Meio (41,1%) e as Expressões (29,4%)”.

Os pesquisadores esclarecem que tal como nos demais ciclos de ensino e formação, a eliminação das disciplinas sugeridas para o currículo do II Ciclo da formação de professores do I Ciclo, sugere a necessidade da redução do número de disciplinas como forma de se abrir o caminho para a melhoria da gestão do currículo.

A coordenação geral do estudo esteve a cargo de Manuel Afonso, José Amândio Francisco Gomes e de João Adão Manuel. A equipa técnica contou com Anilda Mariana Chivukuvuku, Simão Agostinho, Alexandre Bravo Dias e Cecília Maria da Silva Vicente Tomás. O ex-secretário de Estado para o Ensino Pré-Escolar e Geral, Joaquim Cabral e o especialista João Milando fizeram a consultoria. No total, 20 investigadores do INIDE e 90 colaboradores locais afectos a algumas direcções provinciais da Educação participaram nas diferentes fases do inquérito.