“Nojo” assassino

“Nojo” assassino

O Governo decidiu repescar e dar força a uma estratégia de saneamento comunitário, com ênfase no plano escolar, e jornal OPAÍS tem tratado o assunto

. Acontece que algumas vozes “muito finas” e hipócritas resolveram criticar o jornal por referir a questão da defecação ao ar livre com destaque. Não se comoveram com o facto de quase quarenta a cinco por cento das crianças das escolas defecarem ao ar livre. É metade da nossa população escolar. É chocante. É o suficiente para ver que estamos perante uma calamidade de saúde pública.

É mais do que uma parede no caminho do desenvolvimento humano. É terrível. É inadmissível. E só quem tem na cabeça aquilo que as crianças são obrigadas a fazer ao ar livre se pode dar ao luxo de querer esconder a realidade, de pensar que não é assunto de jornal. É diabólico pensar-se que o problema dos filhos dos outros, crianças, não é um problema.

Tirem os vossos filhos dos colégios de Luanda, mandem-nos a uma escola de uma comuna de Icolo e Bengo, ou mesmo do Bonde Chapé, aqui ao lado de Talatona, sem água, sem janelas, às vezes sem portas, sem quartos de banho. E corram também o risco de os vossos filhos morrerem por uma doença qualquer como morrem aos milhares crianças pobres.

O Governo merece aplausos por ter resgastado um assunto que deveria envergonhar qualquer um com um pingo se sensibilidade humana. E é para dar manchete sim! Mas sempre podem levantar os vidros escuros dos carrões e fingir que nada vêm, afinal, é só com os filhos da outros. Aliás, para os nossos “enojados”, os outros nem seres humanos são.