Segundo o estudo, mais de metade (53%) dos angolanos confiam nos líderes religiosos “razoavelmente” ou “muito,” 43% expressam confiança nas Forças Armadas Angolanas e 42% nas autoridades tradicionais.
O estudo não especifica as razões que levam os angolanos a confiar mais nas autoridades religiosas e tradicionais do que nos líderes e instituições legalmente eleitas.
Porém, a UNITA, por via do primeiro vice-presidente do seu Grupo Parlamentar, Maurílio Luiele, não tem dúvidas de que essa descrença ao poder governamental ou político está ligada ao déficit das políticas públicas e na distanciada relação entre governantes e governados, asfixiada por uma acentuada falta de diálogo.
Segundo o estudo, que apontou ainda que menos de quatro em cada 10 entrevistados afirmaram confiar nos tribunais (38%), Polícia (37%), Presidente da República (37%), e outros líderes eleitos e autoridades do Estado, os líderes religiosos e os sobas desfrutam de
maior confiança popular em Angola do que os outros líderes e instituições importantes.
O estudo indica que os sobas e os líderes religiosos são vistos por pouco mais de metade dos angolanos como influentes na governação das suas comunidades locais.
Para Maurílio Luiele, o que leva os cidadãos a não confiarem nos governantes e nas instituições públicas é, fundamentalmente, uma série de promessas não concretizadas.
Conforme explicou, os angolanos vivem numa espécie de autoritarismo, em que os poderes públicos prometeram melhorar a vida dos cidadãos, na esperança de que houvesse uma concretização.
Mas, infelizmente, notou, essas promessas não foram concretizadas, o que é natural que contribua para que haja essa desconfiança sobre os governantes.
Por outro lado, frisou, é do conhecimento geral que a burocratização e as dificuldades que as instituições públicas impõem aos cidadãos, além da débil qualidade dos serviços públicos prestados, jogam um papel importante na desacreditação das instituições públicas.
Maurílio Luiele apontou ainda o factor corrupção, que é, internamente, uma situação que levanta muitas suspeitas e que acaba por contribuir para a perda da confiança dos cidadãos nas instituições públicas.
“Portanto, todos esses pressupostos fazem com que a relação entre os cidadãos e governantes seja a base da desconfiança”, lamentou. Por outro lado, Maurílio Luiele disse que a relação entre governantes e governados é demasiado separada, sem diálogo.
Com bases nisso, frisou, é preciso investir-se mais no aprofundamento da democracia, para tornar próxima a relação entre governados e governantes.
“Precisamos promover uma democracia plena, que faz do diálogo a principal ferramenta de relacionamento entre governantes e governados”, defendeu, tendo acrescentado que “para que os angolanos confiem mais nas instituições e nos governantes, é preciso que haja melhoria dos serviços prestados aos cidadãos”.
De acordo com o político, os servidores públicos têm de se convencer de que estão nas funções designadas para servirem e não para serem servidos.