Psicólogo diz haver “espírito esclavagista” na atitude dos missionários da IURD

Psicólogo diz haver “espírito esclavagista” na atitude dos missionários da IURD

Carlinho Zassala classificou como autêntico espírito esclavagista os recentes pronunciamentos do bispo brasileiro da IURD, Edir Macedo, por estes se cingirem em maldição aos pastores angolanos da mesma confissão religiosa.

De acordo com o especialista, pelo facto de a igreja constituir uma reserva moral da sociedade, os líderes religiosos deviam ter mais cautela em apresentar os seus desabafos pessoais e de interesses financeiros em público.

“No seu discurso, o líder da IURD explora de forma esclavagista, tanto os crentes quanto os pastores angolanos, porque o bispo Macedo teve a arrogância de se atribuir forças divinas para amaldiçoar aqueles que estão a reivindicar o seu direito”, disse o interlocutor de OPAÍS, tendo-se questionado se, na igreja, também não se pode invocar pelo bem-estar.

Por causa disso, Carlinho Zassala é de opinião de que chegou o momento de o Governo tomar as medidas adequadas para pôr fim a actos que considera terem tido indícios de algum oportunismo e certa mercantilização em nome de uma divindade que era apregoada de forma muito ilusória e emotiva.

O docente universitário não entende como é que uma denominação que se diz religiosa e já criou problemas sociais de vulto permanece intocável todas as vezes que há uma reclamação contra a mesma da parte da população ou mesmo dos crentes.

“É preciso ter em conta que, dessa vez, os reclamantes são os próprios pastores e muitos crentes da Igreja Universal, o que demonstra claramente que o problema não é de hoje”, observou o entrevistado, tendo lembrado que as denúncias sobre a vasectomia e outros males causados aos pastores e outros responsáveis angolanos da IURD são muito graves e com tendência de cometimento de crime.

Carlinho Zassala exorta o Executivo a responsabilizar as organizações que criam distúrbios de natureza social ou psicológica ao ponto de separarem casais, fora da intenção inicial dos cônjuges, e famílias, colocando-as em constantes conflitos.

Encoraja, igualmente, o Governo a não olhar com muita passividade para essas instituições, sobretudo quando os problemas são visíveis, previsíveis ou ainda quando constantemente narrados por pessoas ligadas às mesmas.

“IURD não é a única”

Alertando para o problema da IURD não distrair a preocupação que se quer extensiva a actos do género, Carlinho Zassala recordou que há outras instituições ou associações religiosas cujos actos concorrem para desordem social.

“A IURD não é a única onde há situações de ordem social e psicológica preocupante. Eu conheço mais três igrejas contra as quais o Governo já tinha de ditar medidas que as impedissem mesmo de actuar”, denunciou o psicólogo, que promete detalhar os nomes dessas denominações tão logo conclua, por critérios científicos mais contemporâneos, um estudo que está a desenvolver nesse sentido.

Finalmente, o especialista pede que o contexto psicológico e socio-familiar angolano não seja esquecido quando se estiverem a elaborar critérios de admissão de correntes religiosas, já que as suas actividades vão incidir directamente sobre o crente, que é cidadão, e este pertence a um grupo social que é a família.