Fiscais do Lubango espancam zungueira até ao coma

Fiscais do Lubango espancam zungueira até ao coma

Catarina Tchilepa, irmã da vítima, que também se encontrava a realizar a venda ambulante numa das ruas da cidade do Lubango, declarou, a OPAÍS, que tudo aconteceu quando foram perseguidas por fiscais da Administração local por estarem a realizar as suas actividades nas imediações da empresa Marivel.

Para fugirem da perseguição dos fiscais, refugiaram-se num estaleiro de uma empresa de construção civil, mas isso não os inibiu. Os fiscais arrombaram a porta e desataram a agredi-las, desferindo golpes de pontapés e murros, segundo a nossa interlocutora.

“Eram nove ficais que entraram para nos receberem o negócio. Como eram muitos, tivemos que entregar as bacias com fruta que estávamos a vender”, frisou. E acrescentou de seguida: “fiquei atordoada com a pancada que levei e não vi onde tinha fugido a minha irmã”.

A nossa interlocutora explicou que só deu pela ausência da irmã mais velha graças a uma informação que recebeu de um outro vendedor ambulante que presenciou a agressão e o momento em que Joana Tchimuco foi jogada para a viatura em que seguiam os fiscais.

De seguida, Catarina Tchilepa conta que com o auxílio das suas colegas foram à procura de Joana Tchimuco nas esquadras mais próximas para se inteirarem sobre o seu estado de saúde. “Percebi logo que se tratava da minha irmã. Eu e as minhas amigas começamos a procurar. Fomos ao Comando Municipal e à Administração Municipal, mas não encontramos a minha irmã”.

Às 22 horas do mesmo dia, atendendo ao adiantar da hora, as vendedoras decidiram regressar para casa e continuarem as buscas no dia seguinte.

Na manhã seguinte, conta a nossa fonte, dirigiram-se à 1ª Esquadra do Lubango para saber se a sua irmã tinha sido detida e a informação que receberam foi inesperada: Joana Tchimuco se encontrava internada no Hospital Central do Lubango, onde deu entrada com graves ferimentos. “Lá nos informaram que pela gravidade dos ferimentos que teve, fruto da agregação, foi operada”.

Saíram da esquadra para o hospital. “Encontramos a nossa irmã cheia de feridas. Começamos a chorar porque ela não falava e nem olhava”, contou.

Em função da gravidade do estado de saúde da zungueira, os familiares remeteram uma exposição à Procuradoria Geral da República junto do Serviço de Investigação Criminal na Huíla, solicitando a abertura de um processo para se apurar os factos.

“Fomos ao Comando Municipal da Polícia Nacional no Lubango e nos disseram que devemos cuidar da nossa doente que eles cuidarão do agressor”.

Catarina Tchilombo, prima da vítima, disse que foram informados pelos polícias que o mesmo já se encontra detido, mas não acreditam, porque têm vistos os agressores. “Nós os conhecemos e ainda hoje [Sexta-feira] estavam todos no carro da fiscalização. Por isso, vimos denunciar através da imprensa, para que nos ajudem a fazer justiça, já que não é a primeira vez que espancam as zungueiras”, denunciou.

Direcção do Hospital Central do Lubango confirma estado da paciente

A equipa de reportagem do OPAÍS contactou a direcção do Hospital Central do Lubango, no sentido de se inteirar sobre o estado em que Joana Tchimuco deu entrada no Banco de Urgência.

De acordo com uma fonte do corpo clínico que atendeu a vítima da suposta agressão dos fiscais da Administração Municipal do Lubango, confirma-se ter-se registado a entrada na noite de Quarta-feira, porém não consegue precisar a identidade das pessoas que a levaram.

“Foi uma doente que chegou ao Banco de Urgência com dores abdominais, por ter sido agredida na rua. Tivemos que fazer alguns exames como o Raio X do tórax e hemoglobina, que foram negativos”, frisou.

Face a isso, realizaram uma ecografia abdominal que indicou a existência de um líquido livre, ou seja, sangue na cavidade abdominal, na ordem dos 500 ML. O mesmo resulta de uma ferida com a dimensão de 5 centímetros causada pelo espancamento, pelo que, tiveram de realizar uma cirurgia e drenar o sangue da cavidade abdominal.

Entretanto, o médico-cirurgião tranquiliza a paciente internada no quarto piso do Hospital Central do Lubango dizendo que se encontra estável, aguardando apenas pela evolução positiva do caso para que a mesma possa ter direito a visitas dos seus familiares.

João Katombela, na Huíla