O livro de estreia de Shinya Jordão, “Às Sombras das Minhas Mulheres” (Editora Acácias), com o prefácio assinado pelo autor destas linhas, tem um título curioso, pois, por si só, pode levantar reflexões de índoles diversas. Em antropologia, pode conduzir-nos às discussões de estudos feministas, sobretudo para aqueles que alimentam interesses sobre questões que envolvem as relações de género. Em psicologia, pode sugerir-nos o ponto de vista masculino acerca do ciclo temperamental da mulher. Na história da arte, estamos sujeitos a nos situar nas encarniçadas discussões sobre o resgate e a afirmação da mulher dentro da história da arte e dos cânones artísticos – privilegiando as representações do feminino, como reconhecimento político e social, na esfera pública.
O livro é uma reunião de poemas que o autor, Shinya Jordão, dá-nos a conhecer, e insere-se na extensão do debate sobre a mulher dentro dos cânones artísticos. Acutilantes, criativos e provocatórios, os textos de Shinya Jordão, profusamente escritos e lapidados, repõe, ou tentam repor, se preferirmos, a originalidade da mulher, no xadrez social, sob o ponto de vista artístico.
É isso mesmo o que se pretende, também aqui neste poemário: revelar a enorme força das mulheres do continente, particularmente a Angolana. Lembrando, ainda mais, que sombra simboliza protecção – maternal, fraternal e conjugal, neste caso. Há, aqui, uma sistemática homenagem à mulher. Aliás, o título justifica e o conteúdo testifica. Senão vejamos, no poema Mãe (saudades): “Tragam a indulgência e a timidez da lua / Mesmo que o fulgor do astro-rei não anua / Para saberem que há felicidade no planeta / A minha felicidade és tu ó boneca preta”.
Existe alguma coisa bastante perceptível na psicologia feminina: o seu sentido maternal. Isso é tão visível para os homens quanto o líquido amniótico o é para o feto que ela mesma forma e gera, tornando o nascimento de um ser o milagre mais palpável da vida. Para os homens tem sido assim, no contexto relacional amoroso com as suas amantes, ao longo da história humana. Para a sua esposa, Telma Sonhi, Shinya Jordão narra, poeticamente, uma semântica de prazeres no poema A Minha Felicidade. Vejamos excertos do texto: “Deitada no leito, dominada pelo sono imperante / Teu olhar se esconde por entre as pálpebras negras / Teu rosto dócil, distante, repousa no recosto indiferente / Teus lábios túrgidos – meu fontanário perene de ósculo / Frutos calvos de eflúvios inebriantes nas noites sem regras / Reprimem, oh meu Senhor, o teu sorriso, a tua voz / Teus cabelos são como ondas estagnadas de um mar atroz / Teu respirar ora aproxima ora afasta de mim teus pomos”.
São descrições poéticas certeiras, com o autor, de forma extasiada, a explorar as profundezas do erotismo e o brio do prazer como brasas de fogo a arder. O livro “As Sombras das Minhas Mulheres”, lembramos, é extensão da vontade de determinar o espaço da mulher no mosaico artístico e na esfera pública. Outros poemas, de igual beleza poética, fazem desta obra uma proposta de leitura agradável: Amanhecer (Contigo), Destino, Depois do Amor, Na Intimidade, entre outros.
O livro fala por si.
João Papelo