O desempenho do mercado de capitais

O desempenho do mercado de capitais

Durante os primeiros seis meses do ano corrente, o montante negociado na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) atingiu cerca de 627.143,13 milhões Kz, que representa cerca de 72% do montante total transaccionado em 2019, e quase o dobro do total negociado em 2016.

Destaca-se que perto de 24% do montante negociado durante o período acima referenciado, registou-se ao longo do mês de Junho, período em que a BODIVA registou transacções superiores a 150.453,14 milhões Kz, que corresponde a um Ao longo dos primeiros seis meses do ano, o mercado secundário de dívida pública de Angola manteve o dinamismo e se posicionou como uma alternativa aos investidores, não obstante a conjuntura desafiante em que a economia tem operado nível máximo mensal, nunca antes registado, tal como, um incremento mensal de 69%.

O aumento das transacções no mês de Junho reflecte, fundamentalmente, a operacionalização dos Instrutivos nº 06 e nº 09 de 2020, que estabelecem uma linha de liquidez para a compra de títulos públicos às empresas do sector produtivo por parte do Banco Nacional de Angola (BNA), com as compras interbancárias a atingirem 48.898,36 milhões Kz, um incremento de 112% em comparação ao mês de Maio. Destaca-se que até ao dia 03 de Julho o BNA realizou cerca de 123 operações de compra de Obrigações do Tesouro (OT) na plataforma de negociações da BODIVA.

A obrigatoriedade da linha de liquidez aplicar-se exclusivamente a Obrigações do Tesouro Não Reajustáveis (OT-NR), suportou o aumento mensal de 43% do montante de títulos desta tipologia negociados na BODIVA, que fixou-se em 72.568,31 milhões Kz. Paralelamente, a ligeira apreciação do Kwanza face ao dólar (0,52% no mês de Junho) não moderou o comportamento dos investidores que encontravam-se ávidos por transaccionar as Obrigações do Tesouro Indexadas à Taxa de Câmbio (OT-TXC), que durante o período em análise apresentaram um aumento mensal de 51%, tendo o montante se situado em 76.966,59 milhões Kz.

Se por um lado, em Junho, não se registou negociação de títulos de curto prazo (Bilhetes do Tesouro), por outro, pelo segundo mês consecutivo registou-se transacções de Obrigações de Tesouro Indexadas aos Bilhetes de Tesouro a 91 dias, com um total de 918,24 milhões Kz (-8%).

Relativamente à data de vencimento dos títulos, a distribuição dos negócios apresentou a seguinte estrutura: 2020 (12%), 2021 (18%), 2022 (17%), 2023 (31%), 2024 (20%) e 2025 (2%). A concentração de títulos com vencimento em 2023 e 2024 poderá reflectir os critérios estabelecidos pelo BNA para a compra dos títulos, nomeadamente, títulos adquiridos em 2019/2020 e maturidade residual de até quatro (4) anos.

A análise das negociações de acordo com a segmentação revela que, em Junho, o Ambiente Multilateral concentrou cerca de 60%, sendo o remanescente registado no Ambiente Bilateral. O desempenho referenciado corresponde a uma aceleração de 4 p.p. nas operações do Ambiente Bilateral, em detrimento do Ambiente Multilateral.

O montante sob custódia, durante o sexto mês do ano corrente fixou-se em 4.374,20 mil milhões Kz, sendo que do total, cerca de 75% correspondeu a Obrigações do Tesouro Indexadas à Taxa de Câmbio. Importa ressaltar que durante o primeiro semestre foram abertas 1.226 contas de custódia, o que totaliza cerca de 12.703 contas abertas. O aumento da literacia financeira, tal como a diversidade de títulos negociados podem justificar a tendência ascendente.

O processamento de eventos, em Junho, situou-se em 262.851,99 milhões Kz, um aumento de 24% em relação ao mês anterior. Do montante total 14% representou a liquidação de cupão, enquanto, o remanescente correspondeu aos resgates. Por outro lado, cerca de 82% do montante resgatado, correspondeu a Obrigações Indexadas à Taxa de Câmbio., sendo que a liquidação financeira de negócios interbancários registou crescimento mensal de 86%, ao situar-se em 109.481,60 milhões Kz.

O desempenho até agora apresentado demonstra que as negociações mantêm tendência ascendente, porém fortemente dependentes das Obrigações Indexadas à Taxa de Câmbio. O mercado continua a ganhar profundidade, mas os desafios para manutenção da sustentabilidade, passa pela criação de instrumentos mais atractivos, que permitam, essencialmente, efectuar a cobertura de riscos, com destaque para o cambial um projecto já em desenvolvimento encabeçado pela BODIVA e um conjunto de bancos comerciais -tal como a diversificação de instrumentos negociados no mercado, que actualmente baseia-se, primordialmente, nos títulos de dívida pública.