Executivo reconhece que crise na IURD pode ter consequências políticas e diplomáticas

Executivo reconhece que crise na IURD pode ter consequências políticas e diplomáticas

A ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, disse, ontem, em Luanda, que a crise na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) poderá ter consequências políticas e diplomatas na relação do Estado angolano com o do Brasil.

A governante, que falava na discussão, na especialidade, do OGE 2020 Revisto, defendeu que o assunto da IURD não pode ser analisado unicamente do ponto de vista religioso, mas das consequências políticas e diplomáticas que podem advir dele.

Para já, sem especificar datas concretas, Carolina Cerqueira deu a conhecer que o Presidente da República, João Lourenço, deu orientações no sentido de se tratar a questão com as comissões de especialidade da Assembleia Nacional.

Segundo a ministra, uma comissão criada para o efeito deverá transmitir aos deputados informações sobre os passos dados pelo Executivo na resolução do diferendo que opõe a parte angolana e a brasileira na gestão da igreja.

De acordo com Carolina Cerqueira, os membros da comissão multissectorial da religião, coordenada pela ministra da Cultura, Turismo e Ambiente, Adjany Costa, estão a tratar do assunto com toda tranquilidade e ponderação.

Para a ministra, há casos de justiça, há casos com indícios de crimes e devem ser tratados em fórum próprio e pelas entidades competentes.

“Pensamos que há indícios de alguns crimes de violência física e verbal que merecem tratamento dos órgãos competentes, de acordo com a lei angolana”, declarou.

Os bispos e pastores angolanos que se demarcaram da ala brasileira fiel a Edir Macedo, ocuparam algumas igrejas em Luanda e nas províncias de Benguela, Huambo, Malanje, Namibe e Cuanza-Sul.

Os angolanos acusam os brasileiros de irregularidades e montaram o seu “estado-maior“ na Catedral do Morro Bento, localizada na Avenida 21 de Janeiro.

Liderados pelo bispo Valente Bizerra, os pastores angolanos decidiram romper, em Novembro do ano passado, com a representação brasileira em Angola, encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves.

A medida foi tomada, na altura, por alegadas práticas doutrinais “contrárias” à religião, como a exigência da prática da vasectomia, castração química, além da evasão de divisas para o exterior do país.

Organizados num grupo que decidiram apelidar de Comissão de Reforma de Pastores Angolanos (CRPA), justificaram o acto com o facto de os bispos e pastores brasileiros continuarem a revelar “forte ganância” pelo dinheiro dos fiéis.

Apontam também a promoção, pelos brasileiros, de práticas de racismo, discriminação social, abuso de autoridade, faltas de respeito e humilhações públicas contra os angolanos.