Rússia reage a relatório que acusa Moscovo de ‘interferência’ nos processos internos do Reino Unido

Rússia reage a relatório que acusa Moscovo de ‘interferência’ nos processos internos do Reino Unido

O Comité Parlamentar de Inteligência e Segurança do Reino Unido publicou na Terça-feira (21) um relatório sobre a alegada interferência de Moscovo na política interna do Reino Unido. A publicação descreve o Reino Unido como “um dos principais objectivos da inteligência russa no Ocidente”.

Segundo afirma, Moscovo fortaleceu a sua influência na política britânica, usando ligações entre “oligarcas” e empresas e elites locais. “Isto levou a uma crescente indústria de intermediários: advogados, financiadores e agentes imobiliários, que eram de facto, deliberadamente ou não, agentes do Estado russo”, diz o comunicado de imprensa. O documento também contém acusações de “ciberataques” e “disseminação de desinformação”.

Em particular, os canais RT e a agência Sputnik são acusados de cobertura tendenciosa do referendo de 2016 sobre a saída britânica da União Europeia. Esses mídias seriam dominados pela posição “anti-europeia” e, assim, tentavam induzir os leitores e usuários de redes sociais a votar pelo Brexit, o que era alegadamente benéfico para as autoridades russas.

Ao mesmo tempo, os próprios autores do relatório admitem que “é praticamente impossível provar a influência de tais tentativas” e que era necessário recolher provas de eventuais casos de interferência para instaurar processos contra a Rússia.

O texto do documento de 50 páginas foi entregue ao gabinete do primeiro-ministro Boris Johnson ainda em Outubro de 2019. Na época, o governo atrasou a publicação, citando o facto de que “certos processos” deveriam preceder a publicação do documento. A decisão foi provavelmente adiada até à formação de um novo comité de segurança, o que aconteceu apenas nesta semana.

Reações ao documento

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, chamou o documento de “russofobia em apresentação falsificada”, afirmando que com a publicação do documento “não houve nada de sensacional”. Dmitry Peskov, o porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, enfatizou que a Rússia nunca interferiu nos assuntos internos de outros Estados.

O ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, tem dito que não há quaisquer factos que confirmem isso. Segundo Konstantin Kosachev, chefe do Comité Internacional do Conselho da Federação, o Reino Unido está a tentar recuperar a “palma da primazia” na política europeia “liderando na russofobia”.

Outros membros do governo russo, incluindo o senador Aleksei Kondratiev, desvalorizaram o documento, comentando que “a retórica não é nova”. Elena Ananieva, directora do Centro de Estudos Britânicos do Instituto da Europa da Academia de Ciências da Rússia, comentou o documento à Sputnik realçando que muito nele é “nebuloso” e não tem nada de concreto, incluindo o fato de dizer que certos dados secretos estariam disponíveis em anexo apenas para um grupo restrito de pessoas.

Além disso, constata o facto de os autores acreditarem na interferência russa no referendo da independência da Escócia em 2014, mas admitirem não possuir provas concretas. “O relatório contém alegações de que a Rússia tentou influenciar a opinião pública em favor do Brexit. Johnson, agora chefe de governo, era então o chefe da campanha pela saída britânica da UE.

Por isso, o relatório é desfavorável para ele”, afirma. O governo britânico também reagiu à publicação, constatando desconhecer uma suposta interferência de Moscovo nos assuntos internos de Londres. Segundo foi declarado, as agências de inteligência fazem constantes análises, procurando encontrar indícios de participação externa na vida política do Reino Unido.

Quando ainda era chanceler britânico, o actual primeiro-ministro Boris Johnson disse, em entrevista à Sputnik, que Londres não tem dados sobre a intervenção da Rússia no referendo do Brexit e em outros processos.